Marta Suplicy, ex-prefeita e senadora eleita com mais de 8 milhões de votos, é a força política do PT em São Paulo que virou um delicado problema para o partido. A insistência da senadora em manter sua pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo e as chances reais de vencer as prévias contra o favorito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Educação Fernando Haddad, obrigaram os aliados do ministro a mudar o tom e adotar, em público, o discurso uníssono: "Não se vence eleição em São Paulo sem Marta". Para não correr o risco de perder para Marta nas prévias de novembro, a última esperança dos petistas pró Haddad é convencer a presidente Dilma Rousseff a entrar em cena e pedir para Marta desistir da pré-candidatura em favor do ministro.
Embora a candidatura de Fernando Haddad tenha ganhado corpo com a adesão da maioria dos vereadores da bancada municipal e o apoio das principais correntes do partido, isso não significa que Haddad sairia vitorioso num eventual embate com Marta. E a razão é simples: a petista tem grande influência sob a militância. "Não há vitória sem a Marta, isso temos de ter consciência. Qualquer solução passa por ela, o partido sabe disso. É só ir na periferia e ver a popularidade e a força dela", resumiu ontem o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
Ainda que o isolamento da senadora seja cada vez mais evidente entre os caciques petistas, os companheiros de legenda são cautelosos em falar sobre o problema. "A derrota da Marta é a derrota do PT", sintetizou o presidente estadual do partido, deputado Edinho Silva. "É muito ruim disputar com ela", admitiu o vereador José Américo.
No entanto, como o trabalho de convencimento não vem surtindo efeito, os aliados de Haddad pretendem pedir a intervenção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, em última instância, recorrerão à presidente Dilma Rousseff. "O Lula já conversou com todos os pré-candidatos, mas terá de chamá-la de novo. Agora ele precisa ter um outro tipo de conversa com ela", disse um cacique do PT estadual. "Temos de promover um processo jeitoso de retirada", emendou. "Um apelo da presidente será decisivo. Diante de um apelo da presidente, ela aceitaria (desistir)", calculou um apoiador de Haddad. "Estamos torcendo para que isso aconteça", completou.
Para o deputado federal Cândido Vaccarezza, aliado de Marta, é difícil cogitar a desistência da senadora, uma vez que ela ainda não deu nenhum sinal de que pretenda abrir mão de sua pré-candidatura. Vaccarezza também não acredita que a presidente se envolveria no imbróglio do PT paulistano. "Acho que ela não vai se engajar nisso", avaliou.