Cerca de 150 professores da rede estadual de ensino mantinham nesta segunda-feira (16) o acampamento montado em frente à Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), em Curitiba. A mobilização começou na semana passada, quando a categoria iniciou uma greve por tempo indeterminado a partir do dia 9 de fevereiro. O protesto é contra a ameaça de votação do "pacotaço" do governo estadual.
Com a ocupação da Alep pelos servidores por três dias, o governo tomou a decisão de retirar os projetos de lei que eram contestados pelos professores para que sejam melhor discutidos. Segundo informações da APP Sindicato, a greve deve ser mantida, ao menos, até a próxima quinta-feira, quando ocorrerá uma reunião entre o sindicato e o secretário-chefe da Casa Civil, Eduardo Sciarra, no Palácio Iguaçu.
A forma que os professores encontraram de manter a mobilização mesmo durante o feriado de Carnaval foi fazer um revezamento para permanecer com o acampamento em frente à Alep. Há banheiros químicos à disposição, e uma cozinha foi improvisada, com geladeiras e estantes para armazenar pães, frutas e bolachas.
Durante o dia, o grupo organiza atividades culturais, como oficinas de caricatura e rodas de samba. Até um baile de Carnaval foi improvisado: no domingo, o bloco Garibaldis e Sacis esteve no acampamento tocando marchinhas. "Foi embaixo de chuva, mas foi animado", conta a funcionária de escola Nádia Brixner, um das diretoras da APP Sindicato (que representa a categoria). Uma música chegou a ser composta no local em "homenagem" a Richa.
Os professores reclamam de falta de estrutura e de dinheiro nas escolas. Em crise financeira há pelo menos dois anos, o governo Richa cortou milhares de servidores temporários da educação às vésperas do início do ano letivo, diminuiu o número de turmas e deixou de repassar dinheiro para a manutenção dos colégios. O terço de férias dos docentes está atrasado desde dezembro, e outros milhares de professores não receberam a rescisão de seus contratos. "Tem escola que não tem nem papel higiênico", conta Brixner. "Os diretores compraram material fiado, estão com dívida na praça. Tem salas em que não cabem os alunos. É desumano." O governo admite que a pasta da Educação foi a mais atingida pelo recente corte de gastos do Estado, mas que as medidas foram "duras, porém necessárias".
A secretaria da Educação argumenta que tem chamado novos funcionários temporários e concursados para suprir o deficit de profissionais, e que depositou a primeira parcela da verba para manutenção das escolas no início do mês. O governo promete pagar os salários atrasados até o final de fevereiro.
Camburão
Em frente ao acampamento dos professores, uma van estacionada chamava a atenção: era o "Bloco do Camburão", numa alusão aos deputados estaduais do Paraná. O veículo foi adesivado com a foto dos parlamentares da base de Richa, que chegaram à Assembleia na última quinta (12) em um ônibus do Bope, escoltados por policiais. O local estava cercado por milhares de professores e manifestantes, que impediam a votação de um pacote de corte de gastos proposto por Richa. Os deputados só conseguiram entrar escoltados, após a polícia abrir uma fenda no portão dos fundos da Assembleia. A sessão acabou suspensa e o projeto foi retirado de pauta.
A APP Sindicato diz que não foi responsável pela montagem do carro. O dono do veículo não foi encontrado pela reportagem. Em nota emitida na semana passada, Richa disse que o cerco e a invasão da Assembleia foram patrocinados por "baderneiros infiltrados no movimento dos professores".