Política

Polícia investiga grampo em Araucária

17 abr 2001 às 10:06

O delegado Gerson Machado, do 3º Distrito da Polícia Civil, em Curitiba, ouviu, ontem, o depoimento do soldado Afrânio de Sá. Ele é acusado de envolvimento no caso de escuta clandestina, numa linha telefônica da empresa Ocidental Distribuidora de Petróleo, de Araucária (Região Metropolina). Afrânio, que trabalha na limpeza de aeronaves num angar do setor de tranporte aéreo do governo, negou a participação no grampo. O cabo Luiz Antônio Jordão, também intimado, não compareceu. Segundo Machado, o advogado de Jordão se comprometeu a apresentá-lo hoje para depor.

O grampo descoberto em Araucária, afirmou Machado, veio a reforçar a possibilidade de avançar nas investigações de escuta ilegal numa linha telefônica de uso privativo no gabinete da ex-secretária Maria Elisa Ferraz Paciornik. O caso aconteceu em 1999 e foi investigado inicialmente pelos promotores da Procuradoria de Investigações Criminais (PIC). Descobriu-se, na época, uma ligação paralela num escritório de advocacia, na Rua Colombo, 1221, conjunto 2.


O delegado diz estar aguardando, ainda, um documento que aponta que um diretor e um técnico da Telepar seriam sócios de uma empresa de consultoria e informática, especializada em varredura eletrônica. Os dois também serão intimados para depor.


Segundo Machado, a intenção agora é descobrir quem foram os mandantes e qual foi o objetivo da escuta. Ele diz que já tem indícios dos envolvidos e acredita na participação de pessoas "importantes". Para ele, existem ainda fortes indícios que outros telefones de empresas, de políticos e setores do governo possam ter sido grampeados.


Sem CPI


A bancada governista na Assembléia Legislativa conseguiu impedir ontem a aprovação do requerimento do líder do PMDB na Casa, Nereu Mora, que pedia a criação de uma comissão especial para investigar escutas telefônicas em empresas públicas e privadas a mando do Palácio Iguaçu. A votação, no entanto, foi apertada: 17 contra e 14 a favor da comissão. O peemedebista apresentou o requerimento por considerar "gravíssima" a possibilidade de o Palácio Iguaçu ter autorizado a colocação de grampos.


Segundo ele, a denúncia de escuta telefônica feita pelo instalador João Batista Cordeiro "desnuda um esquema dentro do governo que deve ser investigado e não pode ficar restrito à esfera policial". "Um grampo telefônico em um momento em que a sociedade discute temas extremamente polêmicos, como a venda da Copel, é no mínimo suspeito, diante de indícios anteriores de aliciamento de votos de deputados", disparou Moura.


O líder do PMDB ficou decepcionado com a derrubada do requerimento. "Nem adianta apresentar outro semelhante porque também vai cair em plenário", lamentou. "O governo tem medo e não quer mostrar as coisas para a população", emendou.


O líder dos partidos de oposição, Waldyr Pugliesi (PMDB), também defendeu ontem a criação de uma comissão para apurar as denúncias. "Quem garante que a oposição não foi grampeada?", ironizou. "E grampo é crime", resumiu Pugliesi. Para o presidente da Casa, Hermas Brandão (PTB), a escuta telefônica é um "absurdo", que não pode ser permitido.

Na avaliação do líder do governo, Durval Amaral (PFL), as informações obtidas através de grampos não merecem credibilidade. "É ilícito e os responsáveis têm que ser punidos". Para o Palácio Iguaçu, quem tem que investigar é a polícia e não a Assembléia. O secretário de governo, José Cid Campêlo Filho, disse que prefere não se pronunciar "sobre um assunto que não é concreto". "Isso cabe à polícia investigar", esquivou-se.


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