No restaurante localizado em frente à Prefeitura de Osasco (SP), Silvio Pereira dá ordens para os funcionários, comanda a cozinha e verifica se ainda há macarrão em uma das bandejas do buffet. Secretário-geral do PT durante os primeiros anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva e o único réu do mensalão a conseguir um acordo com a Justiça para que ficasse de fora do julgamento que hoje é conduzido pelo Supremo Tribunal Federal.
Ao falar sobre o processo do mensalão, que já condenou seu conterrâneo João Paulo Cunha, ele reproduz o discurso dos advogados que defendem os réus no Supremo: o que ocorreu entre os anos de 2003 e 2005 foi um repasse de dinheiro via PT para que parlamentares pagassem dívidas de campanha. Ou seja, não houve compra de votos, e sim caixa 2. "Se condenarem políticos por esse crime, então teriam que prender todos os dirigentes dos partidos do Brasil", afirma Silvinho, como é conhecido.
Depois, ele discorre sobre a necessidade de mudança do sistema de financiamento de campanha brasileiro. "Tem o PMDB, o PL (hoje PR), o PTB, o PP... Com todos esses partidos se poderia fazer uma discussão séria", diz, listando legendas que tiveram políticos envolvidos no escândalo. "Mas o próprio PT demorou para falar a verdade", completa Silvinho, segundo quem o partido deveria, logo que o mensalão estourou, dizer rapidamente que tudo, diz ele, não passou de caixa 2.
Silvinho pediu desfiliação do PT em meio às denúncias. Como ex-secretário-geral do PT, era o responsável por encaminhar as indicações de partidos aliados para cargos na administração federal. A revelação de que havia sido presenteado com uma Land Rover de R$ 74 mil por César Roberto Santos Oliveira, proprietário da GDK, empresa que prestava serviços à Petrobras, complicou sua situação. Acabou acusado pela Procuradoria-Geral da República do crime de formação de quadrilha. Em 2008, assinou o acordo que o excluiu da ação após prestar 750 horas de serviço comunitário, na Subprefeitura do Butantã, em São Paulo.
Sete anos após a eclosão do escândalo, Silvinho diz estar fora da política. Segundo ele, toda a sua atenção está voltada para o trabalho na cozinha do restaurante Tia Lela, na região metropolitana de São Paulo. Diante de mais questões, ele decide que não é hora de se alongar sobre o julgamento. Lembra-se de que seu advogado pediu para que não desse entrevistas até que o caso seja dado como encerrado pelo Supremo. Há alguma intenção de voltar a fazer política? "Não", afirma o único réu do mensalão a já estar quite com a Justiça, pelo menos "por enquanto", conclui a conversa antes de se despedir. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.