O Ministério Público formalizou ontem no Tribunal de Justiça denúncia contra o padre licenciado e prefeito de Mariluz, Adelino Gonçalves (PMDB), por corrupção de menores. Ele á acusado por dois garotos, um de 15 e outro de 17 anos, que alegaram terem sido molestados no ano passado. A defesa também anunciou que tem depoimentos gravados que podem confirmar a inocência de Gonçalves. O padre-prefeito está preso há 45 dias em Curitiba pela acusação de mandar matar dois aliados políticos.
Num dos depoimentos, a avó de um dos adolescentes diz não acreditar na denúncia. A Folha teve acesso à conversa gravada da avó do menor M. M. D., de 15 anos, Antônia Silvestre. Sobre a acusação de assédio feita pelo neto, a avó é categórica: "Isso é mentira. Ele (M.) nunca falou nada pra mim". O garoto diz que foi molestado no escritório de Gonçalves no dia 20 de junho do ano passado, depois de procurar o padre para se confessar.
A denúncia só foi oficializada na polícia em 26 de setembro, a menos de uma semana da eleição municipal que Gonçalves disputava. Antônia Silvestre acredita que o caso teria sido forjado por adversários políticos de Gonçalves. "Isso tudo começou com as eleições", afirma. A avó do garoto fala ainda que o neto teria sido convencido a incriminar o padre em troca de uma motocicleta e R$ 1 mil. No entanto, ela acredita que o neto não ganhou os bens prometidos.
A suspeita de que o menor foi sondado por adversários políticos de Gonçalves também é reforçada por Elvira Barbiéri, funcionária da Biblioteca de Mariluz, onde M. trabalhava. Elvira testemunhou que o rapaz foi procurado na biblioteca por adversários políticos do padre, entre eles um ex-secretário municipal. Depois de uma conversa reservada num canto da biblioteca com este ex-secretário, M. teria ficado nervoso e abandonado o trabalho, chorando.
Ao retornar, cerca de 90 minutos depois, o garoto insinuou à Elvira, ainda chorando, que estava sendo usado por rivais políticos de Gonçalves. No depoimento que gravou, a bibliotecária reproduz o desabafo do menor: "Os outros fazem os rolos e põem a gente no meio". Os "rolos" seriam o envolvimento do padre em um escândalo sexual que pudesse ter influência na disputa pela Prefeitura. Elvira diz que o menor se afastou do trabalho por cerca de 20 dias. No retorno, já desconfiada de uma armação, ela pediu explicações, chamando o menor de "cara-de-pau". "Ele ficou rindo e dizia que tudo era verdade", diz Elvira.