Política

O amigo vereador: tudo pelo voto

15 set 2012 às 15:17

Ricardo Arfelli, morador de Foz do Iguaçu, percebeu que um problema de visão começava prejudicar o rendimento do seu trabalho. O professor de artes manuais de 45 anos se viu então diante da impossibilidade financeira de comprar um óculos. Mas nessas vésperas de eleições, não foi necessário mexer no bolso. O candidato a vereador para o qual o professor pensa em votar, por ser filho de uma aluna do curso, deu a ele um óculos. "Pelo menos ele me ajudou" comenta. Foi este simples agrado que garantiu a confiança de Ricardo no político pelos próximos quatro anos.


A historia de Ricardo Arfelli não é incomum em períodos eleitorais. Para vereador, o eleitor tende a votar por proximidade, garante o professor de ética Antônio dos Santos Neto. A tese do docente baseia-se no desejo do ser humano pela solução imediata. Segundo ele, a sensação de proximidade do eleitor o com candidato pode representar uma ajuda futura de qualquer natureza se o "amigo" for eleito.


Já na Câmara, uma função essencial do vereador é fiscalizar as verbas do município. Porém se o candidato prometer apenas cumprir este dever tão fundamental para a administração pública pode estar cometendo um suicídio eleitoral. "A maioria das pessoas ainda não veem a Câmara Municipal como a casa do povo, elas precisam estar incluídas nas promessas do candidato", afirma Santos Neto.


Os postulantes parecem sentir o mesmo fenômeno e utilizam-se da visão de eleitor para convencer-se da possibilidade de vitória no pleito eleitoral. Eles se inscrevem para a campanha com um primeiro nome seguido de uma referencia social como apelido, ou ocupação tal como "João da Farmácia" ou "Cida da Escola". Segundo o cientista político Pedro Guirron, esses codinomes servem para criar uma identificação com o eleitor.


É o caso de Maria Florentina Echardt do PMDB, candidata a ocupar uma das 15 cadeiras da Câmara de Vereadores de Foz do Iguaçu. Sem verba, "Maria do Bairro" conduz sua campanha à base dos 10 000 panfletos doados pelo partido e no corpo a corpo com eleitores. "Conheço muita gente na cidade. Faço serviço social e acredito na vitoria" conclui.


Mas eleição é difícil para o candidato e também para o eleitor.


Em 2008, o IBOPE apontou que 63% dos eleitores paulistanos ainda não sabiam em quem votar para vereador. A maior cidade do Brasil dispunha, conforme o Tribunal Regional Eleitoral (TRE), 1077 concorrentes para 55 cadeiras na Câmara Municipal, uma média de 19,58 candidatos por vaga.


Em um cenário tão diverso, o eleitor, em grande parte, revela insegurança e incerteza para o voto. Isto gera crise e confusão moral, tornando difícil para o eleitor identificar qual a melhor opção nas urnas.

Para o professor Guirrón, não havendo uma clara opção, a postura assumida pelo eleitor diante de situações que lhe podem proporcionar soluções imediatas é a de relatividade, sem aprofundamento da razão da escolha ou da atitude a assumida. Em última instância, "o que vale a pena" acaba por determinar o voto.


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