A partir de janeiro do ano que vem a pauta da Câmara Municipal de Londrina (CML) será diversificada, prometem os onze novos parlamentares, ouvidos pela reportagem da FOLHA. A renovação deve carregar para o debate no Legislativo temas como ideologia de gênero, defesa da família, escola sem partido, esporte e inclusão social, passando pela polêmica redução dos salários dos vereadores, a principal bandeira do mais votado, com 11 mil votos, Boca Aberta (PR).
Emerson Petriv, o Boca Aberta, 45 anos, atribuiu a sua expressiva votação – a maior do Paraná – à credibilidade. "Essa votação é resultado da credibilidade que fui pegando junto ao povo, pelo contato com as pessoas. Eu recebo denúncias, vou atrás não importa se é político ou empresário." Morador da zona norte de Londrina, ele já foi candidato a vereador em 2012 e a deputado estadual em 2014. Boca Aberta discursa pela redução da remuneração parlamentar até "o valor do salário inicial de um professor estadual". "Vereador e prefeito são empregados do povo", falou, garantindo que vai reverter parte do próprio salário para o Hospital do Câncer de Londrina.
Para três dos novos parlamentares, a família estará na pauta principal. Ailton da Silva Nantes (PP), 52 anos, 4,6 mil votos, membro da igreja Assembleia de Deus, disputou a quarta campanha. "Com certeza, fiz muitos votos na igreja onde eu desenvolvo um trabalho social há anos, e também na Vila Nova, onde nasci. Na Câmara, pretendo trabalhar a questão humana, priorizando a família."
O advogado Filipe Barros (PRB), 25 anos, é o mais novo desta legislatura e tem um claro propósito para o seu mandato: "continuar a luta contra a propagação da ideologia de gênero nas escolas". Ele disse que há cinco anos trabalha "para evitar a doutrinação política e ideológica, mas muitos professores fazem isso". Por isso, ele já sabe qual será seu primeiro projeto de lei. "Vou protocolar o projeto para a aprovar a escola sem partido." Questionado se tal proposta teria ressonância na Câmara, disse ainda não ter analisado o perfil dos colegas.
Filiado ao partido ligado à Igreja Universal, Barros disse que professa a religião presbiteriana, mas seus 4.227 votos não provieram necessariamente de religiosos. "Tive votos de pessoas de diversas denominações e de ateus. Fui eleito por pessoas que se identificaram com a minha proposta". Solteiro e sem filhos, ele já foi assessor dos vereadores não reeleitos Gustavo Richa (PSDB) e Professor Fabinho (PPS).
A única mulher eleita para a próxima legislatura é Daniele Ziober (PPS), 37 anos, com 4,3 mil. "É uma judiação, um pecado não termos mais mulheres na Câmara, mas vou desempenhar o meu papel e representá-las bem", disse a fonoaudióloga que se candidatou pela segunda vez, apoiada pelos movimentos de defesa da causa animal na cidade, onde é voluntária.
No esporte, o professor de educação física Fernando Madureira (PTB), 4,3 mil votos, 47 anos, promete incentivar mais o uso das estruturas locais. "Londrina tem vários pontos esportivos, porém, mal conservados e mal utilizados, sem planejamento", disse ele, que também é dono de academias.
O empresário Felipe Prochet (PSD), 31 anos, também tem ligações com o esporte. Atual presidente do Londrina Esporte Clube (LEC), ele é formado em Marketing e Propaganda. Disse que sua votação, 2,1 mil, provém de amigos e pessoas ligadas ao LEC. "Vou trabalhar neste sentido, para o desenvolvimento do esporte e atração de empresas", comentou.
AJUDA COM COMBUSTÍVEL
O servidor público federal João Martins (PSL), 66 anos – o mais idoso dos eleitos – disputou sua quarta eleição para a Câmara Municipal e conseguiu a vaga fazendo 1.378 votos. Após 40 anos lotado no Ministério da Saúde, ele pretende, agora, após a eleição, se aposentar. "Hoje ainda fui ao trabalho, mas vou dar entrada na minha aposentadoria." Em razão do trabalho, ele pretende dar atenção especial, em seu mandato, à saúde. "Eu não tenho reduto. Fiz votos em todas as regiões da cidade porque conheço Londrina inteira", afirmou. "Mas penso em apadrinhar um ou dois bairros". Sobre os gastos de campanha, disse que gastou nada. "O Marcelo Belinati deu material e um pouco de combustível para todo mundo."
Na segunda eleição para a Câmara, Estevão Gonçalves Lopes (PTN), 46 anos, que usou como nome de urna Estevão da Zona Sul, disse que obteve os 1,6 mil votos na zona sul, onde mora. Ficou conhecido fazendo atividades assistenciais em creches e roçando áreas públicas com recursos próprios. "Quando a frente de trabalho foi extinta, comprei uma máquina e comecei a roçar o mato. Faço trabalho voluntário em entidades há 18 anos." Na Câmara, disse que quer continuar trabalhando em prol das pessoas carentes, mas disse que ainda não sabe bem como.
O empresário Eduardo Tominaga (DEM), 42 anos, alcançou 4,1 mil votos logo na sua primeira tentativa à Câmara. Ele reconhece que boa parte dos números vem da colônia japonesa. "O (Roberto) Kanashiro me procurou para saber se havia interesse em manter esse trabalho e minha entrada na campanha foi mais por essa necessidade, a ausência dele. Na Câmara vou promover uma política compartilhada com as pessoas e de desenvolvimento para Londrina."
Outro vereador que vem da colônia japonesa é Jairo Tamura (PR), 51 anos, que já ocupou o cargo entre 2008 e 2012, filiado ao PSB. Engenheiro agrônomo e bacharel em Direito, ele disse que no novo mandato quer aproveitar a experiência para continuar contribuindo com a coletividade, sem se dedicar a um setor específico. Tamura foi eleito com 1.517 votos, um a mais que José Roque Neto, colega de partido, que, por causa deste voto, não conseguiu a reeleição.
APOIO DO AVÔ
Guilherme Belinati (PP), ou Gui, conforme o seu nome de urna, terá 28 anos quando assumir o cargo de vereador, no próximo mês de janeiro. Mais novo herdeiro do legado político da família Belinati, ele conquistou a vaga com 5,4 mil votos logo na sua primeira disputa.
Embora tenha declarado à Justiça Eleitoral ser estudante de Direito, Gui disse que trabalha desde os 16 anos com organização de eventos, aluguel e administração da "chácara da família", no Patrimônio Espírito Santo. Ele não esconde que o resultado das urnas se deve, principalmente à atuação do avô e ex-prefeito Antonio Belinati. "Sim, sem dúvida o meu sobrenome interferiu positivamente nesse resultado. Foi uma campanha andando muito, corpo a corpo mesmo, visitando as lideranças de bairro em bairro. O meu avô ajudou na campanha, está atuante e fez diferença."
O novo vereador revelou que há 8 anos está com residência fixa em Londrina, depois de alguns períodos em Curitiba, em razão do trabalho da mãe. "A política está no sangue. Sempre estive envolvido nas campanhas, mesmo quando criança, nasci em ano eleitoral (1988) e vi tudo acontecer. Sempre quis fazer isso, pois admirava os meus familiares." Questionado sobre qual conselho recebeu do avô, respondeu que "trabalhe para o povo", disse ele.