O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse em sua live desta quinta-feira (11) que ninguém fez nada errado nem houve desperdício de recursos na produção de comprimidos de cloroquina, porque, além da Covid-19, doença para a qual o remédio não tem comprovação científica de efeito, há outras enfermidades tratadas com a substância, como malária e lúpus.
O jornal Folha de S.Paulo revelou que o Ministério da Saúde usou a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) para a produção de 4 milhões de comprimidos de cloroquina, com o emprego de recursos públicos emergenciais voltados a ações contra a Covid-19 e com destinação prevista do medicamento a pacientes com coronavírus.
Documentos da pasta obtidos pela reportagem, com datas de 29 de junho e 6 de outubro, mostram a produção de cloroquina e também de fosfato de oseltamivir (o Tamiflu) pela Fiocruz, com destinação a pacientes com Covid-19. Os dois medicamentos não têm eficácia contra a Covid-19, segundo estudos.
O dinheiro que financiou a produção partiu da MP (Medida Provisória) nº 940, editada em 2 de abril pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para o enfrentamento de emergência do novo coronavírus, como consta nos dois documentos enviados pelo Ministério da Saúde ao MPF (Ministério Público Federal) em Brasília. A MP abriu um crédito extraordinário, em favor do ministério, no valor de R$ 9,44 bilhões.
"Está uma polêmica muito grande sobre hidroxicloroquina, fabricou a mais, gastou, era dinheiro do Covid, não era. Pessoal, tem a Covid aí, outras doenças continuam. Não é só Covid. A malária continua. O lúpus continua. Nós temos aqui, em média, 200 mil casos de malária no Brasil. Não sei quantos comprimidos a pessoa toma para se cuidar de malária. Mas muita gente, na região amazônica, toma preventiva", apontou Bolsonaro.
Na transmissão, o presidente disse que "tem muito médico que usa a hidroxicloroquina, a ivermectina para o tratamento precoce" e que a produção de comprimidos é da ordem de 13 milhões, com validade de quatro anos.
"Ninguém está fazendo nada errado ou jogando fora", disse Bolsonaro.
Um documento do Ministério da Saúde, enviado ao MPF (Ministério Público Federal) no dia 4 de fevereiro, aponta a distribuição de cloroquina produzida pela Fiocruz a pacientes com Covid-19, e não dentro do programa nacional de controle da malária, como originalmente previsto.
Esse documento também contradiz o ministério, que afirmou à imprensa não ter concretizado a aquisição do medicamento para distribuí-lo dentro da política de combate ao novo coronavírus.
Na live, Bolsonaro disse também que terá uma conversa nesta sexta-feira (12) com o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, para discutir o uso de um spray que tem sido testado no país em pacientes em estado avançado da Covid-19.
"Não tem comprovação cientifica, assim como a vacinas não têm ainda certificado definitivo. Está na mesma situação desse outro remédio e tem dado certo em muitos casos", disse Bolsonaro, fazendo uma falsa equivalência com os imunizantes utilizados contra a Covid-19.
Bolsonaro aproveitou a transmissão também para reclamar de críticas que diz estar recebendo do governo do Maranhão na atuação do governo federal no enfrentamento da crise sanitária. O presidente sugeriu que poderia acionar a Polícia Federal no estado.
"Foram quase R$ 300 milhões especificamente para leitos de UTI. Cadê os leitos de UTI? Sumiu tudo? O secretário diz que nós não estamos ajudando. Para onde foi esta grana? Acho que vou perguntar para a Polícia Federal, para tirar a pratos limpos, já que não tem, e o dinheiro foi dado, para onde é que foi este recurso", afirmou.