Um dos interlocutores mais próximos da presidente Dilma Rousseff, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, foi recebido com vaias e teve o discurso interrompido várias vezes durante a abertura da Conferência Nacional de Emprego e Trabalho Decente, nesta quarta em Brasília.
"Este é um governo que tem responsabilidade, este é um governo que o tempo todo dialogou e em nenhum momento foi dito que não haveria proposta para os trabalhadores. O que não faremos são atos de demagogia, que podem por em risco a economia do País", afirmou, no início do discurso, sob as vaias de um grupo de servidores.
"Lamento profundamente e espero que as centrais sindicais, com quem dialogamos e com quem temos uma relação tensa, mas cordata, chame a atenção desse setor que se nega ao diálogo."
Gilberto foi recebido com gritos de "pelego" e "traidor" por parte do público, que também entoou um coro de: "A greve continua / Dilma, a culpa é sua". Preocupado com o prolongamento da greve, o governo federal recorreu a um decreto para garantir a manutenção de serviços essenciais, como os prestados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Receita Federal.
"A democracia se constrói na contradição e na audiência daquilo que inclusive não nos agrada. A democracia se faz com respeito, se faz com a capacidade de se manifestar e de ouvir. O governo da presidente Dilma não tem medo da manifestação nem do diálogo, e assim seguiremos até o final do nosso mandato em 2014", afirmou o ministro.
"Nesse momento de grande instabilidade internacional, crise na economia, temos de cuidar do emprego daqueles que não têm estabilidade, daqueles que a qualquer momento podem ser demitidos, essa é a nossa prioridade. Não nos negaremos ao diálogo com o funcionalismo público, seguiremos. Mas a prioridade é cuidar do conjunto do País e eu insisto no direito daqueles que historicamente foram marginalizados", disse.
Após o discurso, Carvalho foi cumprimentado pelas ministras Eleonora Menicucci (Mulheres), Tereza Campello (Desenvolvimento Social) e Maria do Rosário (Direitos Humanos), que também acompanharam a abertura.
Questionado por jornalistas após o evento sobre ter sido chamado de "traidor", Carvalho respondeu: "Faz parte da democracia (a manifestação). Tenho minha consciência, sei por quem eu luto e os servidores não me consideram traidor, estou muito tranquilo quanto a isso".
De acordo com o ministro, no momento em que a presidente Dilma "sentir segurança, será feita uma proposta" de reajuste. "Em nenhum momento as portas estiveram fechadas", afirmou.
Sindicalistas
O presidente da CUT, Vagner Freitas, lembrou em discurso o cenário de crise vivido por outros países. "Ainda ontem, na Itália, foi aprovado um pacote que inclui o corte de 10% dos salários dos funcionários públicos. Não tentem fazer isso no Brasil, nós não permitiremos", desafiou.