Preocupado com a repercussão negativa dos reajustes concedidos a políticos e magistrados recentemente, o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), pode rever o aumento de 14,6% no próprio salário. Desde 1º de janeiro, o tucano tem direito a receber R$ 33,7 mil, ao invés dos R$ 29,4 mil que ganhava até dezembro de 2014. O acréscimo automático é garantido pela Lei Estadual 15.433/2007, segundo a qual os vencimentos do chefe do Executivo são os mesmos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), já "encorpados" no início do ano.
A situação faz de Beto hoje o governador mais bem pago do País, uma vez que a remuneração do STF corresponde ao teto do funcionalismo público. Provoca, ainda, um "efeito cascata" em todo o primeiro escalão. Isso porque, conforme a mesma legislação, a vice-governadora Cida Borghetti (Pros) e os 17 secretários de Estado (sem contar os três assessores e os três comissionados definidos como de apoio técnico) têm direito a receber, respectivamente, 95% e 70% do que ganha o governador.
Ontem, a assessoria de imprensa do Palácio Iguaçu informou que o tucano anunciará "novidades" entre hoje e amanhã. No entanto, não deu pistas se ele irá abdicar do reajuste, como chegou a fazer quando era prefeito de Curitiba, ou se doará parte do subsídio a instituições sociais, especificando nomes e valores. Os governadores da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), e do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (PMDB), já vetaram os aumentos dos próprios salários, o que reforça a pressão pela adoção de medida semelhante no Paraná.
Reeleito no primeiro turno, Beto enfrenta uma grave crise de caixa, que resultou na adoção de medidas impopulares, como aumento de impostos e mudanças no regime da previdência. A justificativa é de que muitas receitas inicialmente previstas não serão efetivadas devido ao baixo crescimento da economia. Questões como o imbróglio envolvendo o repasse do subsídio para o transporte coletivo de Curitiba e atrasos no pagamento de prestadores de serviço público também reforçam certo clima de insatisfação entre a população.
Procurada pela Folha de Londrina, a Secretaria de Estado da Administração e da Previdência (Seap), responsável por gerir a folha de pagamento, não retornou às ligações, para confirmar se os reajustes serão de fato aplicados nos contracheques de janeiro. Como o mês ainda não "venceu", no Portal da Transparência é possível verificar apenas quais são os salários de dezembro.
Mais aumentos
Anteontem, o presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Valdir Rossoni (PSDB), oficializou o aumento de 26,35% nos vencimentos dos 54 deputados estaduais que assumirão seus mandatos a partir de 1º de fevereiro: os salários passarão dos atuais R$ 20 mil para R$ 25,32 mil, o equivalente a 75% do que já recebem, em espécie, os parlamentares em Brasília. Além deles, a presidente Dilma Rousseff (PT), o vice-presidente Michel Temer (PMDB) e os ministros de Estado tiveram seus subsídios reajustados em 2015, de R$ 26,7 mil para R$ 30,9 mil. No Paraná, o "efeito cascata" incidiu ainda sobre os vencimentos de membros do Tribunal de Justiça) e do Ministério Público, igualmente calculados com base no que ganham os ministros do STF. Juízes, desembargadores, procuradores e promotores passaram a receber entre R$ 24,8 mil e R$ 30,4 mil (acréscimo de 14,6%). O mesmo reajuste é esperado para os conselheiros, procuradores e auditores do Tribunal de Contas.