O delegado Armando Marques Garcia, da delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas, deve ser afastado ainda hoje do inquérito sobre a carga de jornais com críticas ao governador Jaime Lerner (PFL) e a subordinados do primeiro escalão. A confirmação foi feita ontem à noite pelo delegado-chefe da Polícia Civil, Leonyl Ribeiro, que justificou a medida afirmando que Garcia fez uma interpretação errada para liberar os exemplares, na sexta-feira. Ribeiro afirmou que ele invocou a Lei de Imprensa, mas deveria ter recorrido ao Código Penal.
O governador Jaime Lerner (PFL) pode pedir a cassação dos mandatos dos parlamentares que estiveram na Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas na sexta-feira passada, por falta de decoro parlamentar. O governo avalia que os deputados e vereadores podem ter pressionado o delegado Armando Marques Garcia para liberar uma carga de jornais com críticas a Lerner e subordinados do primeiro escalão. O delegado afirmou que não sofreu contragimento por parte dos deputados. Lerner requereu ontem ao delegado a lista com os nomes dos parlamentares. Os deputados alegam que não foram fazer pressão e condenaram a atitude do governador.
Os jornais, que pertencem ao Fórum de Luta por Trabalho, Terra, Cidadania e Soberania, pedem o impeachment de Lerner e estavam apreendidos na delegacia desde quarta-feira. O advogado de Lerner, José Cid Campêlo, diz que os deputados constrangeram o delegado a liberar a carga. No documento enviado pelo advogado à delegacia, consta que "constrangimento constitui crime podendo ser causa, além de punição penal, a falta de decoro parlamentar".
Estiveram presentes os deputados estaduais Tony Garcia (PPB), Ângelo Vanhoni (PT) e Algaci Túlio (PTB), o deputado federal petista Florisvaldo Fier (o Doutor Rosinha), além dos vereadores Natálio Stica (PT), Jorge Samek (PT), Paulo Salamuni (PMDB) e Adenival Gomes (PT). Garcia disse que o episódio "reflete a truculência" do governo. Vanhoni afirmou que o objetivo não foi intimidar o delegado. "Temos respeito pela Polícia. O governo perdeu o senso de realidade e de ridículo", revidou.
Para o presidente da Assembléia Legislativa, Hermas Brandão (PTB), o governador "está mal orientado e mal assessorado". A avaliação de Túlio é a mesma. "A assessoria do governador está perdida. Foi atacada pelo vírus da incompetência jurídica". Túlio disse que "não tinha nada de ilegal na presença dos parlamentares". "Esse é o papel do político. Pode errar mas não pode se omitir", resumiu. O líder da oposição, Waldyr Pugliesi (PMDB) saiu em defesa dos deputados. "Este governo vai entrar no livro Guiness do ridículo. é mais um recorde". "É uma coisa disparatada, existe um desgoverno". O vereador Stica classificou a atitude de Lerner como "absurdo" e "desespero".
O senador Roberto Requião (PMDB) também engrossou o coro de críticas a Lerner e afirma que o delegado Armando Marques Garcia foi ameaçado de demissão. Ontem Requião encaminhou uma carta ao delegado-geral da Polícia Civil no Paraná, Leonyl Ribeiro, recomendando que ele mantenha Garcia no cargo. Caso o delegado seja afastado, Requião garante que vai encaminhar o caso ao Senado.
A direção da Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Paraná decidiu entrar na Justiça contra a liminar concedida ao governador, que tirou de circulação o jornal editado pela entidade, integrante do Fórum de Lutas. O material foi apreendido pela segunda vez na sexta-feira, pouco depois da liberação. A carga foi apreendida em Curitiba, antes do início da distribuição.
Cerca de 30 mil dos 100 mil exemplares da publicação estão sob responsabilidade de um fiel depositário. A Justiça também determinou uma multa diária de R$ 4 mil para a CUT caso o jornal seja distribuído. De acordo com o presidente da CUT no Estado, Roberto Von Der Osten, a direção do Fórum se reúne hoje para discutir as próximas ações.
O jornal seria distribuído em todo o Estado antes do dia 11 de junho, quando acontece a marcha popular contra a privatização da Copel, na Capital. Lideranças do Fórum Popular Contra a Venda da Copel esperam reunir 10 mil pessoas em uma passeata que terminará na Assembléia Legislativa, para protocolar o projeto de lei de iniciativa popular que proíbe o Estado de vender a estatal de energia.