O juiz da 3ª Vara Criminal de Londrina, Juliano Nanuncio, marcou para 5 de outubro a primeira audiência do processo para apurar fraude na contratação da oficina mecânica Providence, de Cambé, que pertence ao empresário Luiz Abi Antoun, parente do governador Beto Richa (PSDB), que tinha trânsito livre no Palácio do Iguaçu, até ser preso, em 16 março, data da deflagração da Operação Voldemort, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Segundo denúncia do Ministério Público (MP), a Providence estava em nome de um "laranja", o mecânico Ismar Ieger e seu dono, de fato, era Abi. A oficina foi contratada no final do ano passado de forma emergencial por R$ 1,5 milhão para prestar serviços de manutenção à frota oficial do estado, incluindo viaturas policiais e ambulâncias. Também são réus os empresários Roberto Tsuneda e Paulo Midauar, o advogado José Carlos Lucca, o ex-diretor do Departamento de Transporte Oficial do Estado (Deto) Ernani Delicato e o policial militar Ricardo Baptista da Silva.
Conforme a decisão publicada ontem, na primeira audiência será ouvida parte das testemunhas arroladas pelo MP, incluindo policiais do Gaeco, empresários que forneceram orçamentos para justificar a contratação da Providence e o então contador da oficina, além do tenente-coronel Samir Geha, comandante do 3º Comando Regional da Polícia Militar de Maringá. O militar também foi arrolado como testemunha de defesa por Abi, que incluiu ainda na sua lista outros três oficiais da PM.
Em depoimento ao Gaeco, em março, Geha confirmou ter sido responsável por apresentar Ieger a Abi e também disse que procurava o parente de Beto quando faltava dinheiro para a PM. "Assim como procurava outras autoridades: Ministério Público, Associação Comercial e o Abi, como empresário", afirmou ontem à FOLHA. "O Abi me perguntou se eu conhecia um bom mecânico e lhe disse que o Ieger era um excelente mecânico a quem eu conhecia desde 2008. Foi apenas isso."
O coronel, que comandou a PM de Londrina entre 2012 e agosto de 2014, disse que é amigo de Abi e o conhece "há muitos anos". Sobre ter sido arrolado pelo amigo e pelo MP, manifestou surpresa. "Eu fiquei surpreso por ter sido escolhido como testemunha porque eu não estava mais em Londrina quando a empresa (Providence) foi contratada pelo Estado. Só saberei como posso contribuir com o processo na hora, quando eu for prestar depoimento."
A segunda audiência da Voldemort será em 6 de outubro para ouvir empresários e parentes de Ieger, como informantes, já que trabalharam na Providence. Os dias 8 e 13 de outubro foram reservados pelo juiz para ouvir as testemunhas arroladas pelos réus.
Nulidades
Na decisão de ontem, Nanuncio também analisou – e rejeitou – todas as questões preliminares apontadas pelos réus, como pedidos de absolvição sumária, ausência de crime, cerceamento de defesa e nulidade das interceptações telefônicas.
Uma decisão liminar do Órgão Especial do Tribunal de Justiça (TJ) do Paraná, do começo de agosto, determinou a suspensão do processo da Voldemort. Os desembargadores acataram argumentos da defesa de Abi de que a investigação deveria tramitar no TJ em razão do foro privilegiado de uma das suspeitas, a secretária de Administração, Dinorah Botto Portugal Nogara, titular da pasta onde a contratação da Providence foi feita. No entanto, até hoje o TJ não notificou a 3ª Vara Criminal da liminar e Nanuncio segue com o processo. Paralelamente, porém, a Procuradoria-Geral de Justiça entende que não há fatos que justifiquem incluir Dinorah na investigação.