O deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) rebateu na noite de ontem as declarações do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, para quem os réus da ação penal 470, o mensalão, deveriam ficar "no ostracismo". Em Curitiba para o lançamento da revista "A verdade, nada mais que a verdade", que contesta o julgamento do processo, o ex-presidente da Câmara Federal disse ter a impressão de que Barbosa está "fora do tempo".
"Ostracismo é uma visão medieval. Ele pode muito, mas não pode tudo. Certamente não vai me calar. Tem que fazer o julgamento pelos autos, como é o papel do juiz", afirmou. De acordo com o petista, os ministros do STF não deveriam disputar a opinião pública, como fazem os parlamentares. "A base do juiz é de certo cuidado, certo recato. Ele é vitalício e o salário nunca rebaixa, exatamente para ter a sua liberdade de julgar. Se quiser disputar a opinião pública, tem de se filiar a um partido e buscar voto de quatro em quatro anos", alfinetou.
As declarações do magistrado foram dadas em resposta à afirmação de Cunha de que Barbosa fez um "gesto de pirotecnia" ao decretar sua prisão no início de janeiro, mas sair de férias sem assinar o mandado. "Se era urgente, por que não assinou? Se não era urgente, por que anunciou? Só para que o condenado ficasse exposto três ou quatro dias em toda a mídia? É uma injustiça, beirando a crueldade."
Condenado a 9 anos e 4 meses de prisão por lavagem de dinheiro, corrupção passiva e peculato, o deputado acrescentou que aguarda "com o coração tranquilo" a expedição do mandado, para se apresentar à Polícia Federal (PF), e que não descarta adotar a mesma estratégia de José Genoino. O ex-presidente da legenda lançou um site para arrecadar recursos e pagar a multa imposta pela Justiça. "Eu não tenho renda, vivo do salário de deputado, não tenho patrimônio, não tenho empresa. Então evidentemente só posso contar com a solidariedade dos companheiros e companheiras do Brasil todo."