O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a atacar na noite desta quinta-feira (1º) a Coronavac –imunizante produzido pelo instituto Butantan com uma farmacêutica chinesa– e errou ao dizer que a vacina "não deu certo".
Ao ler uma notícia sobre casos de infecção da variante Delta entre populações vacinadas, Bolsonaro afirmou: "Abre logo o jogo que tem uma vacina aí que infelizmente não deu certo. Abre logo o jogo. Eu estou aguardando aquele cara de São Paulo falar", em referência ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), seu adversário político e padrinho político da Coronavac.
"Não deu certo essa vacina dele infelizmente no Chile. Aqui no Brasil também parece que está complicado. Torcemos para que essas notícias não estejam certas, parece que infelizmente não deu muito certo", disse o presidente, em sua live semanal transmitida em redes sociais.
Escolhida para abrigar estudo idealizado pelo Instituto Butantan sobre os efeitos da imunização em massa com a Coronavac, a cidade de Serrana (SP) viu as mortes em decorrência da Covid-19 e os novos casos da doença despencarem.
E mencionado por Bolsonaro, o Chile é líder em vacinação contra a Covid-19 na América Latina e avalia implementar a aplicação de uma terceira dose de imunizante para reduzir os números de contágios, mortes e internações, mas a maioria dos internados não foi vacinada.
Para a infectologista chilena María Luz Endeiza, o uso de uma terceira dose pode ser necessário, mas ainda há tempo para que o impacto da vacinação seja sentido. "Algumas mudanças já ocorreram. Hoje 85% dos internados em UTI são não vacinados e também são mais jovens, o que significa que as vacinas têm tido como resultado, por ora, em reduzir morte entre os mais idosos. Agora, é preciso avançar de acordo com a mudança da situação e da chegada das novas variantes."
Para a chefe do departamento de epidemiologia da Universidad de los Andes de Santiago, é preciso reforçar as medidas de restrição. "As pessoas estão perdendo o respeito às medidas e não ficam em casa", pontua.
Não é a primeira vez que Bolsonaro ataca a Coronavac. No ano passado, disse que não acreditava que a vacina transmitia credibilidade "pela sua origem" e usou como justificativa que "esse vírus [Covid-19] teria nascido" na China. Antes, ao determinar a suspensão de um contrato de compra de 46 milhões de doses da Coronavac pelo Ministério da Saúde, Bolsonaro se referiu ao desenvolvimento da imunização como "a vacina chinesa de João Doria".
O imunizante atualmente corresponde a 45% das doses aplicadas no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. Foi o responsável pelo início da campanha de vacinação em janeiro e tinha fatia maior, já que as doses dos demais laboratórios começaram a chegar em quantidade significativa apenas posteriormente.
A Coronavac tem taxa de eficácia geral de 50,38%. O índice da AstraZeneca é de 70% e o da Pfizer/BioNTech, 95%, mas, segundo especialistas, as taxas de eficácia, divulgadas pelas desenvolvedoras das vacinas, não podem ser comparadas diretamente porque cada estudo tem sua metodologia própria e, principalmente, um período de desenvolvimento do ensaio clínico distinto. E uma mesma vacina pode obter dados diferentes se forem feitos estudos com metodologias distintas.
Coronavac (desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e produzida no país em parceria com o Instituto Butantan):
- Tecnologia: utiliza a tecnologia de vírus inativado, similar à da vacina da gripe. O coronavírus Sars-CoV-2 é modificado para que se torne não infectante;
- Intervalo entre as doses: de 21 a 28 dias;
- Eficácia: a vacina apresentou eficácia global de 50,38% no estudo de fase 3 conduzido no Brasil quando as duas doses foram aplicadas em um intervalo de 14 dias e de 78% para casos de Covid que necessitam de internação. Dados mais recentes desse estudo mostraram, porém, que a eficácia global subiu para 64% quando a vacina foi aplicada com mais de 21 dias de intervalo entre as doses, prazo que tem sido recomendado pelo Butantan;
- Efeitos colaterais: por ser uma vacina de vírus inativado, os efeitos colaterais são, em geral, leves e esperados. Cerca de 70% dos efeitos reportados foram dor no local da injeção e dor no corpo;
- Em quanto tempo oferece proteção: a partir de dados divulgados de estudos em outros países, sabe-se que a Coronavac induz uma resposta imune moderada com uma única dose, e a proteção até 14 dias após a primeira dose é baixa comparada às vacinas de mRNA (Pfizer e Moderna), por exemplo. Dados da resposta imune induzida após a vacina para o ensaio clínico da Coronavac no Brasil ainda não foram divulgados.