Na reta final da campanha, o presidente Fernando Henrique Cardoso e o candidato tucano à Presidência, José Serra, estão se distanciando. Fernando Henrique está ameaçando até cancelar uma nova participação no programa eleitoral do PSDB no horário gratuito no rádio e na televisão. Nesta quinta-feira, ele ficou irritado com a possibilidade de Serra ter criado uma crise diplomática entre Brasil e Argentina durante a visita do presidente Eduardo Duhalde.
Serra tinha afirmado que o Mercosul fracassara. Duhalde ficou constrangido. No Itamaraty, os diplomatas reclamaram que tiveram suas opiniões desprezadas pelo candidato tucano. Fernando Henrique desculpou-se informalmente com Duhalde. E, depois, defendeu o Mercosul.
"Poucos acreditavam no Mercosul. Sempre criaram dificuldades para a sua concretização. Mas eu tenho uma crença firme no Mercosul. Antes do fim do meu mandato, vamos antecipar o livre-comércio", anunciou Fernando Henrique.
O estremecimento entre o presidente e Serra é negado pela assessoria do Palácio do Planalto. Interlocutores não negam, no entanto, a existência de uma ciumeira por conta dos telefonemas trocados, quase diariamente, entre Fernando Henrique e o presidente nacional do PT, José Dirceu.
Fernando Henrique desaconselhou ainda ataques a Lula na propaganda eleitoral de Serra e mais pulso e integração entre a coordenação política e os candidatos nos Estados, principalmente os do PMDB.
Apesar de manter o apoio oficial a Serra, o PMDB acabou rachando em 13 Estados: Amazonas, Tocantins, Goiás, São Paulo, Paraná, Maranhão, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraíba, Piauí, Bahia e Rondônia. Há, ainda, a possibilidade de o PT conquistar o apoio de peemedebistas no Ceará e no Alagoas. Ontem, o presidente do PMDB de Rondônia, senador Amir Lando, anunciou seu voto no candidato do PT. "Vou votar no Lula. É um voto pessoal, por convicção", disse Lando.
Na Bahia, o deputado Benito Gama (PMDB), candidato à reeleição na Câmara, reconhece que Lula tem ''o apoio natural'' do partido. "Está difícil segurar a turma", reconheceu Benito.
Ontem, Fernando Henrique não escondeu dos convidados no Itamaraty a preocupação de que turno seja entre Lula e o candidato do PSB, Anthony Garotinho. Mas Serra não se abalou. No programa eleitoral de ontem, tentou tomar a bandeira do salário-mínimo de Garotinho ao prometer um valor de R$ 300, acrescido da correção da inflação nos próximos 4 anos.
E ainda pôs no site de sua campanha uma nota desmentindo a afirmação de Garotinho de que a proposta original do PSDB para o salário-mínimo fosse de R$ 211. Por fim, Serra prometeu também fazer uma revisão no Orçamento da União para conseguir recursos e antecipar a data de reajuste do mínimo de maio para janeiro.