O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou nesta sexta-feira que o mensalão foi "sem dúvida o mais atrevido e escandaloso caso de corrupção e desvio de dinheiro público realizado no Brasil".
No segundo dia do julgamento do caso, o procurador apresentou as acusações contra os 38 réus - segundo ele, uma "sofisticada organização criminosa destinada a comprar votos de parlamentares no Congresso".
Para alimentar o esquema, diz Gurgel, ao menos R$ 73 milhões foram desviados do Banco do Brasil. O procurador afirmou que, em depoimento, a ex-diretora da agência de publicidade SMPB, do empresário Marcos Valério, contou que um carro-forte chegou a ser usado para transportar parte do dinheiro.
De acordo com Gurgel, a agência de Marcos Valério simulou empréstimos ("sem garantias mínimas de pagamento") para financiar o esquema. Em troca, segundo o procurador, o empresário buscava vantagens em contratos de publicidade com o governo.
A administração federal, por sua vez, visava comprar apoio político no Congresso e quitar dívidas eleitorais, segundo ele. "A coincidência de interesses fez com que se produzisse essa associação".
Dirceu
Apontado por Gurgel como o "grande protagonista" do mensalão, o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, foi o primeiro réu a ser citado. Segundo o procurador, porém, há poucas provas contundentes contra Dirceu. "Como quase sempre ocorre com chefes de quadrilha, o acusado não aparece nos atos de execução do esquema".