O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux relata um processo patrocinado pelo advogado Sérgio Bermudes cuja solução terá impacto sobre todos os processos semelhantes que tramitam no País. O caso envolve a cobrança de ICMS sobre os produtos comprados pela internet ou por telefone no estado do comprador. Nesta quarta-feira, após ser questionado sobre este novo caso, Fux informou que abriria mão da relatoria. Um documento do próprio ministro afirma seu impedimento para atuar em ações do advogado, o que não tem sido respeitado por Fux, como mostrou reportagem do jornal O Estado de S. Paulo nesta quarta.
O ministro havia dito que participou dos julgamentos em razão de descuido e que os seis processos listados tratavam de questões sem importância. Neste caso, no entanto, Fux votou pela repercussão geral do recurso em novembro do ano passado. Essa decisão, apoiada pelos demais ministros, foi pré-requisito para que o processo continue a ser julgado no Supremo e que a decisão a ser adotada por ele seja repetida em ações semelhantes no Judiciário. Depois disso, em fevereiro deste ano, Fux encaminhou o caso para parecer da Procuradoria-Geral da República.
No dia 1.º de abril de 2011, o chefe de gabinete de Fux, Nicolao Salvador, encaminhou memorando à Secretaria Judiciária do STF para informar que o ministro estaria impedido de julgar processos de Bermudes, de outros dois escritórios e referentes à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Cabral
A relação entre Fux e Bermudes é discutida, inclusive entre integrantes do tribunal e do governo, desde que foi marcada uma festa para comemorar os 60 anos de idade do ministro, evento que reuniria centenas de magistrados, advogados e políticos e que seria pago pelo advogado.
A filha de Fux, Marianna, trabalha no escritório de Bermudes e disputa uma vaga no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ). Os nomes passam pelo crivo do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, um dos convidados para a festa e que foi cabo eleitoral da campanha de Fux para o Supremo. A festa foi desmarcada.
Impedimento
O processo relatado por Fux pode resolver uma briga pelo ICMS nas vendas pela internet. Nas vendas pela internet, um consumidor compra um produto em São Paulo, por exemplo. O ICMS é recolhido nesta operação. Quando o consumidor vai retirar a mercadoria, é obrigado a pagar um adicional a título de ICMS.
Nesta quarta, Fux afirmou que não julgou ainda o mérito da questão e afirmou que encaminhará este novo caso para a presidência do tribunal sortear novo relator. "Não foi observado naquele momento que se tratava de um caso de impedimento do ministro Luiz Fux", informou a assessoria do tribunal.
"Não havendo no momento processo semelhante que possa substituir o referido RE (recurso extraordinário) com leading case (caso líder) neste tema, o processo será encaminhado à presidência da Corte, solicitando que sua relatoria seja transferida", acrescentou a assessoria.