Política

Fala de Michel Temer anima PMDB anti-Dilma

05 set 2015 às 09:12

O Palácio do Planalto reagiu mal nesta sexta-feira (4) à fala do vice-presidente Michel Temer de que será difícil a presidente Dilma Rousseff resistir três anos no cargo sem apoio popular. Segundo interlocutores da petista, as declarações foram classificadas como "surpreendentes", "assustadoras" e "desastrosas" e fortalecem a tese de uma corrente de assessores palacianos que acusam o vice de conspirar contra a presidente.

Além da forma como Temer abordou o tema, o local escolhido para a declaração - um evento organizado em São Paulo por um movimento que defende o impeachment da presidente Dilma, o Acorda Brasil -, deixaram interlocutores do Palácio do Planalto "atônitos". Alguns assessores chegaram a questionar de que lado Temer está e se ele está deixando claro que quer desembarcar do governo.


Tanto que, na avaliação do PMDB, legenda presidida por Temer, a declaração do vice dá início ao discurso de desembarque do governo, incentiva a ala da sigla que defende a antecipação do movimento, previsto para depois das eleições municipais de 2016, e fortalece manifestações por candidatura própria em 2018.


Nesse sentido, a estratégia é cada vez mais se descolar da presidente para deixar claro à sociedade e setores empresarias de que o partido não é responsável pelo atual cenário de recessão econômica e nem favorável às decisões impopulares que envolvem aumento de carga tributária. "A declaração, efetivamente, vai animando aqueles que acham que tem que mudar. Vai mostrando a fraqueza dela (Dilma), vai solidificando a opinião do povo brasileiro de que ela não tem condição", disse Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), que integra o grupo do PMDB favorável à debandada do partido.


Cavalo de pau


Para o senador Romero Jucá (PMDB-RR), sua fala foi "realista". "Ele (Michel Temer) fez uma constatação verdadeira e disse que precisamos agir para mudar essa realidade, porque nenhum governo consegue ficar nessa situação, sangrando três anos e meio. E é verdade".


Na opinião de Jucá, o governo precisa mudar a condução da sua política econômica para que as expectativas dos agentes econômicos possam ser revertidas e, com isso, o País possa gradualmente retomar o crescimento.


Ou o governo dá um cavalo de pau, muda radicalmente e consegue passar outro tipo de expectativa para sociedade ou vai ter muita dificuldade", afirmou. Disse ainda que coma fala "o PMDB marcou posição".


Segundo o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação, Edinho Silva, a declaração de Temer foi usada "fora do contexto". "Ele é extremamente fiel à presidente Dilma". O ministro fez questão de ressaltar ainda a "liderança política extremamente importante para o governo", representada por Temer, que tem sido "fundamental" para a governabilidade.


'Certeza absoluta'


Diante da repercussão negativa causada com as declarações, Temer tentou consertar o impasse ao conceder entrevista ao jornal norte-americano The Wall Street Journal. Na conversa, ele ressalta, desta vez, que Dilma vai encerrar o mandato em 2018. "Você pode escrever isso: eu tenho certeza absoluta que isso irá acontecer, que será útil para o País, que não haverá nenhum tipo de perturbação institucional", disse o vice-presidente por telefone. "Dilma continuará a governar "até o final, até 2018", comentou.


Apesar do mal-estar criado com sua declaração, Temer deve participar de reunião amanhã, no Palácio da Alvorada, onde a presidente pretende discutir com seus ministros alternativas para cobrir o déficit orçamentário. Embora acreditem que ele não faltará ao encontro, interlocutores de Dilma consideram que o clima, no mínimo, ficará "estranho".

As declarações do vice-presidente ocorreram em meio ao afastamento dele da articulação política do governo ocorrido após desavenças de Temer com o núcleo político mais próximo da presidente Dilma. Temer vinha reclamando que muitas negociações que fazia com a base eram desautorizadas ou não cumpridas pelo Palácio do Planalto. Além disso, não foi consultado sobre a reforma administrativa estudada pelo governo nem sobre o retorno da CPMF. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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