Política

Ex-gerente reitera que diretoria da Petrobras sabia dos desvios

20 dez 2014 às 10:23

A ex-gerente executiva da Diretoria de Abastecimento da Petrobras Venina Velosa da Fonseca prestou nesta sexta-feira, 19, depoimento ao Ministério Público Federal, em Curitiba, para apresentar denúncias de irregularidades na estatal. Na oitiva, que durou cerca de cinco horas, ela contou ter recebido ameaças após revelar desvios na companhia e reiterou que a atual diretoria da estatal sabia dos problemas em ao menos três setores, mas não tomou providências.

Venina entregou aos investigadores da força-tarefa que investiga os crimes da Operação Lava Jato relatórios de auditorias, notas fiscais e comunicados internos da Petrobras, além do computador de seu uso. O material indicaria as impropriedades na construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, em contratos da área de Comunicação e em processos de compra de óleo combustível por subsidiárias no exterior.


No pacote levado a Curitiba, também estão as mensagens enviadas por ela à atual presidente da companhia, Graça Foster, e ao diretor de Abastecimento, José Carlos Cosenza, nas quais alertaria para as irregularidades.


"É um conjunto probatório que, no meu entender, mostra que houve omissão dolosa por parte da diretoria", afirmou o advogado Ubiratan Mattos, que acompanhou a ex-gerente no depoimento. "Com absoluta convicção, a diretoria sabia (das irregularidades). Tanto que ela foi 'exilada' para ficar longe", acrescentou ele. O Ministério Público Federal (MPF) avaliará de há elementos para novas investigações.


Venina foi gerente executiva da Diretoria de Abastecimento da Petrobras de 2005 a 2009. No período, ela foi subordinada ao então diretor Paulo Roberto Costa, que confessou, este ano, em regime de delação premiada, um esquema de pagamento de propina por empreiteiras, que abasteceria partidos da base aliada, em troca de contratos superfaturados de obras da estatal, entre elas Abreu e Lima.


A ex-gerente diz ter relatado os problemas a integrantes da cúpula da estatal, por e-mail, a partir de 2009, incluindo a Graça Foster, então diretora de Gás e Energia, e Cosenza. Depois disso, foi transferida para a subsidiária da Petrobras em Cingapura. O caso foi revelado pelo jornal "Valor Econômico".


As irregularidades denunciadas envolvem o pagamento de R$ 58 milhões para serviços que não foram realizados na área de comunicação, além do aumento dos custos de Abreu e Lima, cujo orçamento saltou de R$ 4 bilhões para R$ 24 bilhões. Ela também relatou supostos prejuízos na compra de óleo combustível no exterior.


A Petrobras alega que os e-mails enviados por Venina a Graça Foster antes de 20 de novembro de 2014 não tratavam dessas irregularidades. Em entrevista, a presidente da estatal disse que a ex-gerente decidiu fazer denúncias após um relatório interno responsabilizá-la pelas não conformidades que inflaram o valor das obras de Abreu e Lima. Por conta dessas acusações, ela foi destituída do cargo de chefe da Petrobras em Cingapura em novembro e teve sua remuneração reduzida em cerca de 40%.


A estatal também argumenta que, quando Cosenza recebeu denúncias sobre Abreu e Lima, a responsabilidade sobre o projeto era da própria ex-gerente. E acrescenta ter tomado as providências adequadas quanto os negócios de comercialização de óleo no exterior.


Ameaças

No depoimento de hoje, Venina reafirmou ter sofrido ameaças a partir de 2009 e descreveu episódio em que teria sido abordada, no Rio. "Botaram uma arma na cabeça dela e... 'se abrir o bico, você morre", contou o advogado. Segundo ele, também houve intimidações por telefone. "Algo como 'você não sabe com quem está mexendo'", explicou.


As declarações e documentos de Venina podem ser usados pelo MPF para embasar inquéritos e ações penais em curso, ou mesmo novas investigações. Ela também tem depoimento à Justiça marcado para fevereiro, quando será ouvida como testemunha de acusação nas ações já abertas pelo juiz Sérgio Moro.

Venina chegou a Curitiba na noite de quinta-feira, 17. Para despistar a imprensa, foi ouvida pela força-tarefa num dia sem expediente no MPF - hoje era feriado na capital curitibana. Investigadores chegaram a dizer que a oitiva só ocorreria em janeiro. A Procuradoria da República no Paraná não se pronunciou a respeito.


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