Política

Delegado revela como dinheiro era tirado do país

17 jul 2003 às 18:45

Na segunda metade dos anos 90, muitos carros-fortes deixaram o país, pela Ponte da Amizade, na fronteira com o Paraguai, sem passar por nenhuma fiscalização. Essa era uma das formas adotadas por uma quadrilha brasileira especializada em tirar dinheiro do país irregularmente.

Os veículos descarregavam o dinheiro em Ciudad Del Leste, no Paraguai. A rota de evasão de divisas foi revelação nesta quinta-feira pelo delegado Paulo Roberto Falcão, da Polícia Federal, em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga a remessa de dinheiro para o exterior, a CPI do Banestado.


Segundo o delegado, ao fazer o cruzamento de informações, o Banco Central constatou uma grande diferença entre os números declarados nos depósitos efetuados em Ciudad Del Leste e a movimentação efetiva. Os parlamentares também ouviram o delegado Euclides Rodrigues da Silva Filho, responsável pelo primeiro inquérito em Foz do Iguaçu, em março de 97.


Falcão coordena a Operação Macuco, que investiga o envio de dinheiro para o exterior entre 1996 e 1999 pelas contas CC-5, usadas por não residentes no Brasil para enviar dinheiro ao exterior. A Polícia Federal estima o valor desviado em US$ 30 bilhões.


Falcão disse que, na época, o Banco Central autorizou cinco bancos de Foz do Iguaçu a receberem dólares diretamente, para facilitar as atividades de comerciantes da área de fronteira.


Os bancos eram Banestado, Auraucaria, BMG, Real e Banco do Brasil, que deveriam manter registro das entradas e saídas. Mas isso não foi feito e o então diretor da área internacional do BC, Gustavo Franco, que autorizou as regras especiais, não teria tomado nenhuma atitude.


O presidente da comissão, senador Antero Paes de Barro (PSDB - MT), considerou o depoimento de Falcão muito esclarecedor. "Ele também deu boas notícias, como a quebra do sigilo de 157 contas bancárias e a investigação do Banestado em Nova Iorque, para a qual já estamos solicitando colaboração das autoridades americanas", informou.


Cerca de 100 prisões provisórias de correntistas laranjas e o indiciamento de 17 pessoas também foram decretadas. O senador quer um projeto de lei que dificulte a saída desse dinheiro do país.


O relator da comissão, deputado José Mentor (PT-SP), informou que na próxima terça-feira o ex-presidente do BC, Gustavo Franco, será ouvido pelos parlamentares. Mentor também disse que a Polícia Federal já está encaminhando documentação para ser apreciada pelos parlamentares.

Nesta sexta-feira, representantes da CPI viajam a Curitiba, para observar as atividades da Operação Macuco.


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