Em mais de 4 horas de interrogatório perante o juiz da 3ª Vara Criminal de Londrina, Juliano Nanuncio, a auditora fiscal da Receita Estadual Rosângela Semprebom - uma das delatoras na Operação Publicano que investiga suposto esquema de pagamento de propina e sonegação fiscal no órgão - culpou, principalmente, os empresários pelas irregularidades. Ela, que é irmã do fiscal e delator, Luiz Antonio de Souza, está em prisão domiciliar e usa tornozeleira eletrônica.
Rosângela admitiu, também, o recebimento de propina, embora tenha negado a extorsão.
Segundo ela, era mais comum os empresários procurarem os auditores para oferecer dinheiro com o objetivo de evitar autuações. "Muitos empresários se beneficiaram durante muito tempo do esquema. Pode até ter havido pedido de propina, mas na imensa maioria das vezes eles oferecem. Havia grande interesse financeiro nisso tudo", falou ao juiz. Ela confirmou nomes de empresas de todos os portes e revelou ter recebido de duas empresas R$ 300 mil em propina.
Ao ser questionada por advogados de outros réus, Rosângela disse que a corrupção na Receita atinge praticamente todas as delegacias do Paraná, conforme relatos que ouvia do irmão. No caso de Londrina, ela envolveu nominalmente três colegas, também réus na ação penal: Márcio Albuquerque de Lima, José Luiz Favoreto Pereira, Milton Digiácomo, além de Souza. Todos ocuparam funções de chefia na hierarquia da Receita Estadual.
Para o advogado Walter Bittar, que defende Pereira e Digiácomo, a atuação dos empresários, citada pela delatora, derrubaria a tese de organização criminosa, um dos crimes imputados na denúncia. "Não eram os auditores, com subdivisões, que iam, organizadamente, atrás de alguém. Existiam situações isoladas de diversas pessoas." Contudo, o advogado Eduardo Duarte Ferreira, que atua na defesa de Rosângela, Souza e de outros réus, afirmou que o relato da cliente demonstra convergência de interesses entre auditores e empresários. Enquanto os primeiros ameaçavam com a autuação, os donos de empresas tentavam reduzir o prejuízo mediante propina.
"A situação do empresariado que procurava os auditores fiscais demonstra convergência de interesses. Havia o empresário que queria pagar menos, porque era sonegador e eles (auditores) que recebiam. Fica clara a linha de mão dupla", disse Ferreira. O advogado de Márcio de Lima preferiu não conceder entrevista.
De acordo com a promotora de Justiça, Leila Schimiti, o depoimento de Rosângela atendeu as expectativas do Ministério Público (MP), tendo em vista que a delatora nunca ocupou função de chefia na Receita. "Os auditores fiscais estavam no exercício da função e legitimados para a execução de um trabalho. Isso (não haver achaque) tem sido invocado em autodefesa, mas na medida em que constatamos que os autos de infração eram lavrados de acordo com o acerto de propina, temos configurado que havia acordos de corrupção." Agora, as audiências serão retomadas no começo do mês de abril.