Política

Custódio troca voto por mandato

17 ago 2001 às 10:54

O deputado estadual Aparecido Custódio da Silva (PFL) disse ontem que é contra a privatização da Copel, mas que tem se declarado a favor da proposta do governo do Estado para garantir que cumprirá seu mandato até o fim, em dezembro de 2002. Suplente, Custódio assumiu a cadeira em 16 de janeiro, quando Nelson Justus (PTB) se licenciou para ocupar o cargo de secretário estadual de Transportes.
Pressionado por jornalistas e sindicalistas, Custódio declarou, ao chegar à Assembléia, pela manhã, que poderá votar contra a privatização, na sessão marcada para segunda-feira. Afirmou que está sofrendo "todos os tipos" de pressões, sem definir formas e autores desse assédio. "Sou suplente. Posso ser afastado... Talvez nem seja mais deputado", disse.
O governo agiu imediatamente. "Caso o deputado Custódio tenha alguma dificuldade em relação à votação, o titular do mandato é o Nelson Justus. Não vamos perder por causa dele (Custódio)", disparou o líder do governo, Durval Amaral (PFL). Apesar do tom da declaração, o deputado disse que não se trata de uma ameaça.
Justus negou que cogite reassumir o mandato até segunda-feira, mas a Folha apurou que o governo estuda a manobra para derrubar o "desertor". No momento das declarações de Custódio, Justus já estava na Assembléia. "Venho aqui duas ou três vezes por semana", justificou.
O governador Jaime Lerner (PFL) não comentou as declarações do deputado. Sua assessoria informou que o governo vai exigir que o parlamentar vote seguindo as orientações do partido.
Para Justus, numa situação tão polarizada quanto a da Copel, os deputados estão sujeitos a "pressão de todos os tipos, de todos os lados". Ele insinuou que Custódio esteja agindo com fraqueza. "Isso é importante para se analisar a personalidade da pessoa. Nunca me lembro de alguém ter me pressionado para nada."
Custódio repetiu pelo menos cinco vezes ser contra a venda da estatal. Chegou a chorar no final da entrevista. "Não tenho mandato. Se o pessoal do sindicato garantir emprego depois... Hoje, com mandato na mão, sou contra". Ex-metalúrgico, o deputado é ligado ao sindicato dessa categoria.
Ele disse que iria conversar "com suas bases" e com Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força Sindical - à qual o sindicato é ligado - para se orientar como deverá votar na segunda-feira.
(Colaborou Maria Duarte)

Mandato barra trâmite de duas ações criminais - Se perder a imunidade parlamentar que o mandato de deputado lhe garante, Custódio da Silva poderá ser condenado em dois processos criminais que tramitam na Justiça. Num deles, é acusado de peculato (desvio de verba pública), por apropriação de parte do salários dos funcionários de seu gabinete na Câmara de Curitiba, entre 1993 e 99, quando era vereador. No outro, a acusação é concussão, por fraudar prestação de contas de uma entidade assistencial que dirige para ficar com o dinheiro.
Nos dois processos, o Tribunal de Justiça (TJ) do Estado aguarda licença especial da Assembléia para processar Custódio. Até agora, o presidente da Casa, Hermas Brandão (PPB), não se manifestou sobre o assunto. Os processos estão no TJ porque, além da imunidade parlamentar, o mandato garante foro privilegiado.
Além dos processos criminais, Custódio responde a quatro ações cíveis: por se apropriar dos salários de funcionários, utilizar veículos da Câmara para atividades particulares e em campanhas políticas, e colocar placas se apresentando como responsável por obras públicas. Os supostos desvios superam R$ 1 milhão. Ele responde ainda a cerca de 40 ações trabalhistas. Os dois casos não são alcançados pela imunidade.
A carreira política de Custódio começou de maneira inusitada. Metalúrgico e líder sindical, ele fez uma greve de fome de quatro dias em 1991, ao ser demitido. No ano seguinte, elegeu-se vereador pelo PST. Depois, passou por PDT e chegou ao PFL. Tanto na Câmara de Vereadores como na Assembléia Legislativa, é conhecido pela prática do assistencialismo.


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