Política

Crise na CPI do Banestado faz relatora renunciar

02 jun 2003 às 21:42

A deputada Elza Correia (PMDB) renunciou ontem ao posto de relatora da CPI do Banestado, presidida por Neivo Beraldin (PDT). O motivo foram os constantes desentendimentos entre ela e Beraldin.

Elza não concorda com a forma como o presidente da comissão tem conduzido os trabalhos, o que gerou uma série de atritos entre os dois durante as reuniões da CPI.


Nesta segunda, ao anunciar na tribuna do plenário o seu afastamento, Elza acusou Beraldin de ser ''antidemocrático e centralizador''.


Um dos episódios mais tensos entre Elza e Beraldin aconteceu no início de maio, quando a CPI quebrou o sigilo bancário das empresas DM Construtora de Obras e Rodoférrea Construtora de Obras, ambas controladas por parentes do empresário Darci Fantin.


A quebra do sigilo não foi autorizada pela Justiça, mas amparada na Lei 1.579 (que trata dos poderes das CPIs), Lei Complementar 105 e no artigo 53 da Constituição Federal (que aborda as prerrogativas dos deputados e senadores).


Só que os representantes das empresas ainda não tinham sido ouvidos pela comissão. ''Não se poderia ter feito isso (quebra de sigilo) sem ouvir as pessoas'', disse Elza, que cogitou sua saída da CPI há vários dias.


Outro fator que ajudou na decisão da deputada londrinense foi que a CPI do Banestado recebeu carta do Banco Central negando o pedido de quebra de sigilo fiscal e bancário das empresas DM e Rodoférrea, que teriam sido beneficiadas com renegociações de dívidas. Os parlamentares estudam agora se mandam os pedidos de quebra de sigilo para a Justiça Criminal.


Elza Correia disse ainda que tem sido vítima de uma manobra para desviar o foco das investigações. ''Até hoje sequer tocamos no assunto lavagem de dinheiro'', disse. A CPI foi criada em abril, com o objetivo de apurar um esquema de lavagem de dinheiro usando agências do Banestado, ex-banco estatal comprado pelo paulista Itaú em outubro de 2000.


Na carta encaminhada ao presidente da Assembléia Legislativa, Hermas Brandão (PSDB), a deputada explicou que as divergências com Beraldin causaram ''um clima insustentável''.


Na entrevista aos jornalistas, Elza se mostrou tensa. A deputada disse que houve tentativas de entendimento, mas não foi possível. Sua decisão é irreversível.


Beraldin não se mostrou surpreso. Ele comparou a CPI, que tem 11 membros, a um time de futebol. ''Ou o jogador pede para sair, ou o técnico o substitui. Ela pediu para sair'', declarou.

O deputado disse que a saída de Elza não vai trazer prejuízo ao andamento da CPI. ''É o primeiro mandato dela, ela tem boas intenções. Torço por ela'', amenizou. Beraldin deve escolher hoje o substituto de Elza.


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