Política

Cobrar propina é escárnio contra população, diz sociólogo

06 set 2009 às 19:30

Foi com surpresa e indignação que os leitores do Bonde reagiram à notícia de que um vereador recém-eleito – Rodrigo Gouvêa (PRP) – está envolvido em denúncia de extorsão contra um empresário da cidade. A situação chama atenção porque a maioria dos vereadores da legislatura passada citados como participantes de um esquema de cobrança de propina para a aprovação de leis municipais foi rejeitada pela população e acabou não reeleita.

"Os novos vereadores se elegeram com a promessa de ética, com a ideia de passar a Câmara de Londrina a limpo", disse o cientista político Mário Sérgio Lepre. "É um escárnio para com os eleitores".


Esse comportamento, na avaliação do professor, reflete uma "cultura arraigada" de corrupção que predomina na política – não apenas em Londrina – em todo o Brasil. "O sistema brasileiro permite essa corrupção endêmica que, não seria exagero dizer, existe em todos os legislativos brasileiros: um caso é o próprio Senado, com o senador José Sarney".


Para Lepre, um agravante nesta situação é o fato de o vereador citado ser novo – em idade e na política – e já chegar com um mau propósito na Câmara. "É uma pessoa que já vem "contaminada" por essa cultura da corrupção, já entra com o intuito de fazer negociata".


Este, para Mário Sérgio Lepre, é o lado ruim da descoberta de mais este possível caso de corrupção na Câmara de Londrina. Porém, com algum otimismo, é possível ver o lado bom: "Significa que a população está menos tolerante aos desmandos, às negociatas, à falta de ética; e significa que temos um Ministério Público bastante atuante", avaliou.


O caso


A denúncia envolvendo o vereador Rodrigo Gouvêa se tornou pública na quinta-feira da semana passada (3). O empresário, em depoimento ao Ministério Público, teria confirmado a tentativa de extorsão, que teria ocorrido no prédio do Legislativa. Gouvêa teria pedido dinheiro para votar favoravelmente ao projeto de lei do Executivo que estabeleceu normas para o programa "Minha Casa, Minha Vida" em Londrina.


Maurício Costa é engenheiro e proprietário da Construtura Bonora & Costa, que atualmente executa contrato firmado com a Caixa Econômica Federal para edificar casas na zona norte.


O presidente da Câmara, José Roque Neto (PTB), disse que o empresário lhe contou que Rodrigo Gouvêa tentou lhe extorquir. Na sexta-feira (4), Roque Neto afirmou em entrevista ao Bonde que Maurício Costa entrou em seu gabinete e disse: "O vereador Rodrigo Gouvêa me chamou num canto e perguntou quanto valia seu voto. Ele estava muito nervoso, falou isso rapidamente e saiu da minha sala. Voltei então para o plenário e nada mais soube sobre isso até que o promotor me ligou para prestar depoimento", relatou.


Surpresa


Questionado sobre o caso, Padre Roque disse que "não esperava" que uma denúncia como essa surgisse tão cedo no Legislativo londrinense. Desde que assumiu o cargo, ele tem falado que seu objetivo é reconstituir a imagem ética da Câmara, que ficou completamente abalada depois do escândalo do ano passado. "Cada cabeça é uma sentença. Não posso fazer com que todos os vereadores ajam de maneira ética", esquivou-se o presidente.


Legislatura passada


Em 2008, o escândalo envolvendo a investigação sobre o esquema de cobrança de propina na Câmara dominou o cenário político. Apontada por muito como o pior momento do Legislativo Londrinense, a crise ética fez com que um vereador fosse cassado – Orlando Bonilha – e um renunciasse para fugir da cassação – Henrique Barros.


As investigações começaram quando Barros foi flagrado pela Polícia Civil e agentes do Ministério Público com R$ 9,9 mil, que teria acabado de receber de empresários, a título de propina. Preso, ele confessou o crime e acusou outros vereadores – embora, depois, ao Judiciário, tenha apresentado outra versão para os fatos.


A partir da confissão e das acusações contra outros vereadores, os promotores descobriram que muitos parlamentares participariam do esquema. Doze dos então 18 vereadores foram investigados e quase todos chegaram a ser afastados do cargo, incluindo o estão presidente da Câmara, Sidney de Souza (PTB).

Depois de cassado, Bonilha "abriu a mala" e disse que não era a "única batata podre". Entregou outras negociatas e, inclusive, um suposto pagamento mensal que a empresa TCGL faria a um grupo de 12 vereadores para que não "criassem problemas" para a empresa. Bonilha, o ex-vereador Renato Araújo e o diretor da TCGL foram indiciados pelos crimes de corrução passiva e ativa.


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