Política

Chefe da Casa Militar diz nada saber de grampo no Palácio

19 abr 2001 às 19:01

O coronel Luiz Antonio Borges Vieira, secretário-chefe da Casa Militar, negou que tivesse conhecimento de qualquer escuta telefônica no gabinete da ex-secretária de Estado da Administração, Maria Elisa Paciornik. Ele disse que o serviço de inteligência do Palácio Iguaçu não tinha conhecimento do grampo e que se algum militar teve participação, deverá ser punido.

De acordo com o delegado Gerson Machado, titular do 3º Distrito Policial de Curitiba e responsável pelo inquérito, o caso foi descoberto, mas não foi investigado pela Casa Militar. Vieira garante que somente soube do grampo após a varredura e que não recebeu qualquer solicitação oficial para que a escuta telefônica fosse investigada. Ele disse ainda, que apenas presta serviços para o governador Jaime Lerner (PFL) e para a vice-governadora Emilia Belinati (PTB).


O grampo telefônico foi descoberto pela própria secretária. Ela teria suspeitado que muitos dos assuntos pessoais que tratava por telefone estavam sendo divulgados pelos corredores do Palácio. Na época, Maria Elisa chegou a confidenciar para amigos mais próximos sua desconfiança que secretários poderiam estar envolvidos. "Ela falou que foi exatamente na época em que resolveu moralizar as irregularidades que estavam ocorrendo em algumas secretarias de Estado, como superfaturamento em compra de materiais de informática", disse Machado.


A então secretária da Administração solicitou uma varredura nos telefones da secretaria e o grampo foi encontrado por especialistas. As investigações preliminares começaram a ser feitas em novembro de 1999 pela Promotoria de Investigações Criminais (PIC), mas a Polícia Civil só teve acesso às documentações em março deste ano.


O inquérito já tem 213 páginas e indica suposta participação de dois policiais militares da Casa Militar no grampo. O soldado Afrânio de Sá e o cabo Luiz Antônio Jordão são citados no inquérito e podem ser expulsos da corporação. Eles tiveram participação, segundo as investigações, no caso de uma escuta clandestina numa linha telefônica da empresa Ocidental Distribuidora de Petróleo, em Araucária (Região Metropolitana de Curitiba).


Sá negou participação no grampo. O cabo Jordão será ouvido hoje. "São investigações paralelas, mas tudo leva a crer que eles também sejam responsáveis pelo grampo no Palácio Iguaçu. Eles tinham estreitos laços com o instalador João Batista Cordeiro", destacou o delegado.


Cordeiro já foi ouvido pelo delegado e confirmou que foi contratado pelos militares para grampear um telefone da distribuidora de Araucária. No inquérito do cabo Jordão foi anexado um documento de solicitação de varredura em sete telefones de Curitiba, residenciais e comerciais. Nenhuma das pessoas teria pedido a varredura. As solicitações foram feitas para a empresa Defense Assessoria e Consultoria Ltda, de propriedade de Edgar Fontoura Filho, diretor de seguro patrimonial da Telepar.


"Fica uma pergunta: até que ponto eles não usavam a estrutura da Telepar para fazer grampos clandestinos, particulares?", questionou o delegado. Esta mesma empresa foi indicada para fazer trabalhos para o serviço militar de Roraima pela Casa Militar do Palácio Iguaçu.


Se forem identificados, os envolvidos serão indiciados pelo artigo 5º da Constituição Federal, que fala sobre violação da intimidade das pessoas e pelo artigo 51 do Código Penal, parágrafo 1º, que fala sobre devassa indevida do conteúdo de conversações telefônicas. Machado aguarda para os próximos dias documentos que podem desvendar o crime.


"Já me prometeram uma série de documentos. Vou aguardar. Só tenho a certeza que se trata de um fato gravíssimo, de invasão de intimidade e por razões políticas e econômicas. Vamos chegar aos mandantes, sejam eles secretários de Estado ou qualquer outra coisa", frisou.

A Folha solicitou entrevista com Maria Elisa Paciornick junto à assessoria da Renault, onde a ex-secretária exerce suas atividades atualmente, mas não obteve retorno.


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