A notícia de uma confidência feita pela presidente Dilma Rousseff ao presidente de Portugal, Aníbal Cavaco Silva na quarta-feira (30) gerou polêmica entre o líder do PSDB, senador Alvaro Dias (PSDB), e integrantes da base do governo.
Com base em matéria publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, o parlamentar paranaense cobrou nesta quinta-feira (31) explicações dos governistas sobre a natureza das "negociações caso a caso" que a presidente estaria sendo obrigada a fazer com os parlamentares de sua base, para manter a maioria no Congresso.
"Nós temos um problema sério de maioria", afirmou Dilma a Cavaco, em conversa reservada com Cavaco Silva, na cerimônia de doutoramento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Universidade de Coimbra. Segundo o repórter Vitor Sorano, adeclaração foi ouvida porque "Dilma estava sentada a cerca de um metro e meio do cercado reservado para cinegrafistas e fotógrafos".
Conforme o senador, a julgar pela matéria, Dilma está às voltas com a prática conhecida como "varejo" em votações importantes no Congresso. Na opinião do parlamentar, essa revelação deve ser considerada como denúncia da maior gravidade a explicada, e não esquecida.
"Isso revela a barganha para a aprovação de projetos, a existência do balcão de negócios. Isso se constitui na manutenção de algo deplorável que é a relação de promiscuidade do Executivo com o Legislativo, que se verificou nos últimos anos no Brasil, culminando com o grande escândalo do mensalão", disse.
Para Alvaro Dias, os líderes do governo no Congresso devem explicar, desmentir, concordar ou discordar da afirmação da presidente Dilma - ou ainda adotar a posição que considerarem mais adequada, mas sem deixar passar o fato despercebido. As explicações, disse, devem ser dirigidas menos à e mais à sociedade.
Alvaro Dias lembrou que, em agosto deste ano, o crime de formação de quadrilha atribuido aos denunciados no caso do mensalão, cujo processo tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), deverá prescrever. Então, nas palavras do senador do PSDB, "a impunidade prevalecerá".
Defesa
A reação de alguns parlamentares da base governistas foi imediata. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) argumentou que, na matéria do Estadão, a presidente não fez a afirmação com caráter de denúncia, mas sim para sublinhar as dificuldades que um presidente encontra para formar maioria. Salientou ainda, que, em mais de 20 anos de mandato no Congresso, nunca demandou nada ao governo federal em troca da aprovação de projetos, além de sempre procurar fazer a defesa do que considera interesse público.
A também paranaense Gleisi Hoffmann (PT-PR) considerou graves as palavras de Alvaro Dias e pediu "fatos concretos, nomes, datas" relacionados à "denúncia" mencionada pelo parlamentar. Gleisi disse ainda que sem negociação é impossível dialogar e votar e que, se já tivesse sido implantado o sistema eleitoral por lista fechada, como defende o PT na proposta de reforma política, a situação seria diferente.
"Nós não podemos usar a tribuna, fazer um discurso genérico e dizer que aqui está todo mundo envolvido em situação de negociação e que nossa presidente faz negociação com esta Casa de maneira escusa", afirmou Gleisi Hoffmann.
Já Walter Pinheiro (PT-BA) ponderou que não foi a presidente Dilma quem fez qualquer ilação a respeito do comportamento dos parlamentares. Para ele, o senador que trouxe o debate ao Parlamento deve, sim, aprofundar a denúncia que menciona.
Indignação
Após a defesa da base governista, Alvaro Dias afirmou não ter feito "ilação", mas apenas cobrado explicações dos líderes, e que sua fala não é um ato de desrespeito, mas um desejo de ver esclarecimentos sobre um fato público veiculado pela imprensa nacional.
Sua intenção, acrescentou, é não permitir que se passe à sociedade a ideia de que o Congresso Nacional mantém e preserva práticas potencialmente destrutivas para a credibilidade da instituição. "É necessário que a população recupere a sua capacidade de indignação", disse.
Alvaro Dias assinalou também que, se a presidente da República faz queixa a um presidente de outro país sobre o comportamento de seus aliados, os questionamentos devem ser dirigido a ela e não à oposição, que só tem o dever de trazer a denúncia à luz e pedir explicações. (Fonte: Agência Senado)