A Assembléia Legislativa cumpriu a meta estabelecida pelo presidente Hermas Brandão (PTB) e limpou a pauta de votações antes do recesso. Temas polêmicos, como a criação de novos cargos no Poder Judiciário e o repasse de recursos aos municípios através da Agência de Fomento, foram aprovados a toque de caixa. A inclusão dessas matérias nas últimas sessões de votação, encerradas nesta quinta-feira, desencadeou reclamações tanto de deputados aliados quanto de oposicionistas.
As sessões de quarta-feira (uma ordinária e três extraordinárias) terminaram às 21h45. Além da falta de tempo para dabate dos assuntos considerados "problemáticos" e a postura de alguns parlamentares nas votações gerou crise no plenário. Deputados da oposição votaram pela aprovação do substitutivo do líder do governo, Durval Amaral (PFL), ao novo estatuto da Polícia Civil. Parlamentares da base de sustentação se colocaram contra matéria de interesse do Executivo.
Foi o estopim para que um grupo de ex-aliados do governador Jaime Lerner (PFL) voltasse a anunciar a formação de um bloco classificado como "independente". Sete deputados - Marcos Isfer (PPS), César Silvestri (PPS), Tony Garcia (PPB), Renato Gaúcho (PSDB), Augustinho Zucchi (PSDB) e possivelmente o pastor Edson Praczyk (PL)- pretendem assumir postura desvinculada dos interesses do Palácio Iguaçu e também da oposição, a partir do segundo semestre.
Segundo Zucchi, o bloco terá uma "atuação independente", discutindo cada projeto em separado. "O que vimos aqui (anteontem) foi uma coisa de indignar", reclamou Zucchi. Apesar dos comentários nos bastidores darem conta de que o novo bloco vai querer "barganhar" com o Palácio Iguaçu, Zucchi garantiu que a intenção não é essa. "Vamos nos posicionar de acordo com os temas, e não conforme interesses da situação e oposição", disse.
No final da Legislatura passada, setores da base de sustentação anunciaram a formação do bloco independente, que começaria a atuar no primeiro semestre deste ano. A proposta não se concretizou, mas a cúpula do governo teve que gerenciar uma crise entre a base aliada que até hoje não se solidificou completamente, principalmente por causa da polêmica em torno da privatização da Copel.
Com os ânimos acirrados, não faltou nem bate-boca no plenário. O líder da oposição, Waldyr Pugliesi (PMDB), cobrou posicionamento da bancada do PSB (Ricardo Maia, Moysés Leônidas e Hidekazu Takayama). A orientação nacional do partido é contra as privatizações do setor elétrico mas, no Paraná, a bancada vota com o governo, que planeja vender a estatal em outubro ou novembro. A bancada alega que a cúpula nacional entenderá as "questões regionais", mas não anunciou posição oficial.
A oposição está interessada no aumento dos votos contra a venda. Leônidas respondeu: "O seu partido (PMDB) está votando com o presidente Fernando Henrique Cardoso". Leônidas disse que peemedebistas paranaenses estariam negociando com o governo a venda da Copel. "Vou querer verificação de voto", ameaçou. O líder do PMDB, Nereu Moura, retrucou. "Tenho orgulho do PMDB. Nosso líder (Roberto Requião, presidente estadual do partido) nunca se alinhou ao FHC."
O presidente da Casa, Hermas Brandão (PTB), abriu a sessão ordinária de ontem criticando a imprensa. Os jornais reproduziram as críticas dos parlamentares à inclusão de temas considerados "espinhosos" nas últimas sessões. Brandão ficou irritado. "Não vou aceitar interferência externa no Legislativo, nem da imprensa nem dos outros poderes", disse. Brandão argumentou que a Ordem do Dia foi elaborada com a participação das lideranças partidárias e que, portanto, ninguém pode reclamar.
Foram realizadas 14 sessões extraordinárias este mês. Como o limite previsto no Regimento Interno é de oito sessões, Hermas Brandão garantiu que os deputados só vão receber extra pelas oito primeiras. Cada parlamentar vai ganhar R$ 400,00 por sessão (total de R$ 3,2 mil por deputado). Caso os 54 parlamentares tenham comparecido a todas as sessões, a cifra alcança R$ 172,8 mil. Os deputados retomam as atividades no dia 1º de agosto. Em julho, o governador Jaime Lerner (PFL), Hermas Brandão e Durval Amaral estarão no exterior.