Política

A porta de cadeia mais concorrida do Brasil

25 jan 2015 às 09:07

O prédio com fachada envidraçada da Polícia Federal no Paraná fica em um sossegado bairro residencial de Curitiba. Por questões de segurança, não há estabelecimentos comerciais no entorno. O silêncio é tal que alguns funcionários da PF lutam contra o sono depois do almoço.

A Operação Lava Jato transformou o lugar. Lá também fica a carceragem onde estão presos 11 executivos de empreiteiras, ex-diretor da estatal, doleiros e lobista acusados de participar do esquema de corrupção da Petrobrás. Dia sim, dia não, as equipes de reportagem ocupam a porta. O entra e sai de advogados virou rotina. Vizinhos com mais tempo para acompanhar o movimento no local já sabem até identificar que este ou aquele grupo de engravatados atende este ou aquele preso.


A polícia não divulga detalhes sobre o trânsito dos presos ou de seus familiares. Assim, o que não faltam são histórias e boatos sobre gente que vai chegar, sair ou passar por lá. A imprensa já fez campana à espera da ex-amante do doleiro Alberto Youssef - aquela que está na revista Playboy deste mês. Também aguardou por horas a visita da filha do ex-diretor da área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró - aquela filha para quem ele transferiu parte dos bens. Se qualquer uma delas de fato apareceu, ninguém viu.


O ambulante que vende água e salgados no entorno garante que a esposa de Youssef é uma "querida". Ele conta, para quem quiser ouvir, que a senhora chegou com dois carros, quatro seguranças e marmitas com salmão, frango defumado e bombons franceses. A própria teria lhe informado o cardápio quando comprou uma garrafinha de água mineral. Segundo os jornalistas que marcam ponto no local, se a mulher de Youssef passou por lá, ninguém identificou.


Quando alguém é preso ou libertado, o local fica especialmente tomado por fotógrafos e cinegrafistas em busca de uma imagem exclusiva. Eles não arredam o pé até quando um preso simplesmente vai depor dentro do prédio e, no máximo, é transferido de uma sala a outra em alguma área inacessível. A vigília é para o caso de algum advogado passar pela entrada e dar uma declaração bombástica. No dia 15 de janeiro, quando Cerveró prestou depoimento, o show na porta ficou por conta do cantor Marcos Moura. De posse de sua viola, ele apresentou o pagode da Lava Jato, de sua autoria: "A Operação Lava Jato fechou a gincana. Ninguém mais engana", entoava.


As quartas-feiras, dia da semana reservado a visita, são capítulos à parte. Os familiares de presos da Lava Jato se misturam aos dos demais detentos - ou quase isso. Poucos são como a mulher do empreiteiro Ricardo Pessoa, presidente da UTC, que entra na fila para pegar a senha da visita. Sim, quem chega recebe uma senha e precisa esperar a vez para entrar na área da carceragem e ver o preso, geralmente atrás de um vidro, como nos filmes americanos.


Na maioria dos casos, os advogados das empreiteiras recolhem os documentos e entram na fila no lugar dos clientes que, em vez de aguardarem no saguão da entrada, preferem se sentar nas cadeiras ao fundo da sala em anexo, à direita da entrada, na área reservada aos que vão tirar o passaporte. Mesmo assim, não passam desapercebidos. O cabelo bem tratado, as roupas de marca, os óculos escuros no ambiente fechado contrastam com o jeito comum dos demais.

Nas visitas é possível levar produtos adicionais para os presos. Na quarta-feira passada, um advogado da OAS se encarregou da guarda de uma imensa sacola com produtos de limpeza, especialmente desinfetantes para vaso sanitário. Os familiares do lobista Fernando Soares, mais conhecido como Fernando Baiano, carregavam estoques de água mineral. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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