Quase dois anos e meio depois, a Justiça de Londrina decidiu mandar a júri popular sete acusados do assassinato do agente penitenciário Thiago Borges de Carvalho, 33 anos. Ele foi morto enquanto retornava de uma revista da PEL 2 (Penitenciária Estadual), perto do conjunto União da Vitória, região sul, junto com outros profissionais. A vítima integrava o SOE (Serviço de Operações Especiais), grupo especializado do Depen (Departamento Penitenciário do Paraná) que atua em rebeliões e motins nos presídios estaduais.
Segundo as investigações, o carro onde Thiago estava foi atingido por tiros de fuzil. Um deles acertou a cabeça do rapaz, que morreu mesmo após ser encaminhado ao Hospital da Zona Sul. A emboscada, como a polícia considerou o esquema feito pelos criminosos, deixou ainda outros dois agentes feridos. Eles sobreviveram ao ataque.
De acordo com a decisão da última quarta-feira (29) da juíza da 1ª Vara Criminal, Elisabeth Kather, o Tribunal do Júri irá decidir o futuro de Alexandre Ferreira, Edimo André Brunning Silva, Hernandes Cabral Santos, Higor Salles, João Carlos Fernandes Silva, Uiverson Zornitta Constantino e Welber da Silva Conceição. "Presume-se que os réus sejam pessoas perigosas, sendo que foram, em tese, protagonistas de um crime de gravidade indiscutível", escreveu a magistrada.
Para ela, "ao que tudo indica, cada um possuía uma função previamente determinada para a execução dos homicídios narrados na denúncia". Segundo o Ministério Público, Welber é quem repassava as ordens ao resto do grupo.
As orientações eram dadas primeiramente a Alexandre. Conforme a ação do promotor Ricardo Domingues, Higor era a única exceção: ele teria seguido os passos dos agentes logo na saída da PEL 2 e incendiado um Citroen segundos depois do atentado. O carro foi encontrado completamente desfigurado nos fundos do jardim Cristal, também na zona sul.
O advogado Alfeu Brassaroto Júnior, que defende Edimo Brunning Silva, disse respeitar a decisão, mas adiantou que vai recorrer ao Tribunal de Justiça "para que ele seja absolvido ou impronunciado". O advogado de Alexandre Ferreira, Guilherme Espiga, informou que "serão atacados os pontos contraditórios, pois é inadmissível que um processo com sete réus tenha uma decisão genérica. A mesma deveria individualizar cada um. Por exemplo, meu cliente é primário, trabalhador, sem antecedentes, possui residência fixa há mais de 20 anos no mesmo local e sequer foi mencionado pelas testemunhas durante o processo".
A reportagem não conseguiu contato com os defensores de João Carlos, Higor, Welber, Uiverson e Hernandes.
Para o advogado Mário Barbosa, do Sindarspen (Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná), o despacho judicial "trouxe mais paz para a categoria".
Quem era Thiago
Thiago Borges de Carvalho foi um dos precursores do SOE (Seção de Operações Especiais) em Londrina, onde o grupo foi criado em julho de 2016. A "elite" do departamento penitenciário foi concebida na gestão de Fernando Francischini, hoje deputado estadual, na Sesp.
A ideia era reforçar a segurança nas cadeias do Paraná. Thiago, segundo familiares, conhecia a realidade carcerária do Estado desde 2008, mas demonstrou interesse em participar do setor especial assim que a notícia começou a se espalhar pelas dependências do Depen, orgão que até hoje está vinculado.
Natural de Dracena (SP), ele cursou Administração, mas alimentava outro sonho. Em 2008, passou no concurso de agente penitenciário e foi morar em Curitiba. Oito anos depois, conseguiu a transferência para Londrina.