A onda de protestos desencadeada após a morte de Cristiano Rodrigues de Jesus, 20, chegou ao terceiro dia em Londrina. No final da tarde desta terça-feira (13), amigos, familiares e moradores do Jardim Califórnia fizeram um bloqueio na avenida Dez de Dezembro, o que causou lentidão no trânsito em pleno horário de grande movimento. A Polícia Militar (PM) esteve no local.
A reportagem foi procurada por um morador que pediu para não ser identificado. Ele reafirmou o que outros moradores já vêm dizendo desde que o jovem perdeu a vida em uma situação caracterizada pela Polícia Militar como um confronto.
"Se fosse algum cara envolvido com o crime, com tráfico, você acha que a população toda iria fazer tudo isso?", questionou o morador.
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De acordo com a Polícia Militar, o jovem não acatou à ordem de uma equipe da Rotam (Rondas Ostensivas Tático Móvel) e deixou o local da abordagem, na rua Camile Flamation, no final da manhã de domingo (11). Dois jovens foram revistados enquanto Cristiano correu para dentro de uma residência, de onde não saiu com vida.
Segundo os moradores, ninguém pode se aproximar no local. "Não quiseram falar, não deixaram a gente chegar perto, mandaram calar a boca. Só depois a gente percebeu o que tinha acontecido", explicou o morador.
Em seguida, policiais relataram que foram apedrejados, o que desencadeou uma ação mais dura para conter as agressões.
O primeiro relatório do 2º Comando Regional da Polícia Militar já informava sobre uma suposta troca de tiros, versão que é desmentida pelos moradores. Duas horas depois, a Polícia Militar informou que foram encontradas drogas e dinheiro trocado com o jovem.
"A família dele não tinha nenhum que tinha passagem pela polícia, só ele, por furto de um celular. Ele estava pagando pelo crime dele e foi executado. Deram dois tiros primeiro para falar que foi confronto", afirmou o morador à reportagem.
Familiares e amigos protestaram colocando fogo em pneus e outros objetos na mesma noite. Uma fábrica de tecidos que atua há mais de 40 anos em Londrina também foi alvo de um incêndio criminoso em retaliação à morte do jovem.
Na segunda-feira (12), um novo protesto foi realizado na avenida Juscelino Kubitschek, o que desencadeou novas abordagens da Rotam no bairro e com a prisão de dois homens.
Representantes do Movimento Nacional dos Direitos Humanos estão acompanhando os desdobramentos do caso. Os moradores afirmam que somente um compromisso de autoridades como o Poder Executivo e o 5º Batalhão da Polícia Militar sobre o fim de abordagens policiais consideradas abusivas poderá dar um ponto final nas manifestações.
"A arma do crime foi colocada depois de 12 horas do fato. Pela foto que eles colocaram dá pra ver que a munição está intacta. Na hora do fato, ninguém pode entrar no local, nem reportagem, nem nada. Queremos uma resposta do Ministério Público. Era um jovem de 20 anos que estava pagando por um B.O. de cinco, seis anos atrás", pontuou o morador.