Polícia

Sargento da PM confessa que matou menor com tiro de fuzil

29 out 2012 às 19:45

Um sargento da Polícia Militar do Rio de Janeiro foi preso em flagrante na madrugada desta segunda-feira (29) após confessar ser o autor do disparo de fuzil que matou um adolescente de 17 anos na noite de domingo no bairro de Cordovil, na zona norte da cidade. Rafael Fernandes da Silva foi atingido no pescoço e morreu no local após o carro que dirigia ter sido metralhado. O veículo foi cercado por duas viaturas da PM após o pneu ter estourado em um buraco na via. Indiciado por homicídio doloso, quando há intenção de matar, o policial afirmou em depoimento que confundiu o barulho do pneu com tiros.

Rafael da Silva foi enterrado no final da tarde desta segunda no cemitério do Irajá. Ele tinha completado 17 anos na última sexta-feira. O adolescente se preparava para ser bombeiro, seu sonho desde criança. Seu pai tinha outros seis filhos, mas ele era filho único por parte da mãe, que está em choque. "Minha sensação é de ódio. Era um garoto apaixonado pela vida e um policial tirou a sua vida. Eles destruíram minha família", afirmou Luiz Bastos, padrasto da vítima.


Na noite de domingo, Rafael pegou o carro escondido da mãe para visitar, com outros dois irmãos e dois amigos, suas namoradas. Ao perceber que o filho havia saído, a mãe pediu que ele retornasse. Na volta, o estudante teria perdido o controle do veículo ao passar por um buraco, que causou o estouro do pneu. Os policiais desconfiaram e cercaram o carro. Em depoimento, os oito militares afirmaram que pediram aos jovens que descessem e colocassem a cabeça no chão. Um dos irmãos da vítima, também militar, teria se identificado e negado o pedido. Em seguida, os policiais atiraram. De acordo com a polícia, apenas dois tiros foram disparados. O sargento Marcio Perez de Oliveira, de 36 anos, confessou o crime. Ele tem 11 anos de atuação na PM e está preso desde esta segunda.


A família do adolescente reagiu com indignação à versão da Polícia. Um dos irmãos da vítima também foi atingida por estilhaços. Ele afirma que há marcas de quatro balas em diferentes pontos do veículo, o que contraria a tese da PM. Os familiares afirmam ainda que os policiais tentaram alterar a cena do crime. "Eles ficavam dizendo para registrar o caso como auto de resistência, mas nós não deixamos", afirmou o pai da vítima, Valmir Miguez da Silva, de 56 anos. Ele também denunciou que os PMs faziam deboche da situação. "Foi uma covardia. O sargento olhou na minha cara rindo, sabendo que tinha matado meu filho."

O inquérito está sob responsabilidade da Polícia Civil, que já ouviu os oito policiais envolvidos e dois jovens que estavam no carro. As armas de todos os militares foram recolhidas. A polícia aguarda a conclusão da perícia e outros dez depoimentos para finalizar o inquérito. Em nota, o comandante geral da Polícia Militar, Erir Ribeiro Costa Filho, classificou a ação como "lamentável" e afirmou que os policiais "só devem atirar quando há segurança, já que a principal missão da corporação é a preservação da vida".


Continue lendo