O diretor-geral do Instituto de Criminalística do Paraná (IC), Ari Ferreira Fontana, o chefe da Divisão Técnica do Interior do IC, Geraldo Gonçalves de Oliveira Filho, e outras cinco pessoas foram presas nesta terça-feira (25) acusadas de pertencer a uma quadrilha que realizava falsas ou desnecessárias perícias em veículos para extorquir dinheiro de vítimas ou ainda "esquentar" carros possivelmente roubados com chassis adulterados. As ações concentravam-se nas seções de Cascavel e Guarapuava. A ação é resultado de um trabalho conjunto da Secretaria da Segurança Pública e a Promotoria de Investigação Criminal de Cascavel.
As prisões foram feitas simultaneamente em várias cidades do Paraná. Em Curitiba, foram presos Fontana e Oliveira Filho. Em Cascavel, os policiais prenderam o perito-chefe do IC da cidade, Jayme Cazarote Júnior, e os peritos Osvaldo Panissa e Décio Mitmann. Em Guarapuava, foi presa Maria do Rocio Martins Ribeiro, que trabalha ilegalmente do Instituto de Criminalística da cidade. Em Manfrinópolis, próximo a Francisco Beltrão, foi preso o médico Edson Mitsuo Inafuko, acusado de ser um perito "fantasma" do Instituto de Criminalística de Cascavel. Inafuko foi preso por porte ilegal de arma no momento que seria notificado para prestar depoimento no Ministério Público.
Além de cumprir os mandados de prisão temporária, a polícia ainda cumpriu mandados de busca e apreensão nas seções técnicas do Instituto de Criminalística de Cascavel e Guarapuava. Nestes locais, a polícia apreendeu diversos documentos, armas, objetos e uma viatura da Polícia Científica em situação irregular.
Logo depois da operação policial, o secretário Luiz Fernando Delazari anunciou a intervenção administrativa na Direção Geral do Instituto de Criminalística do Paraná e nas Seções Técnicas de Guarapuava, Cascavel e Francisco Beltrão. Ele determinou a abertura de procedimento administrativo contra os presos e a investigação de outras irregularidades como a emissão de diárias frias que seria comandada pelo agora ex-diretor geral Ari Fontana. "Temos denúncias e sérios indícios de que foi desviado dinheiro do Instituto. Isso será apurado com muito rigor tanto para punir os responsáveis e servir como exemplo para valorizar o trabalho dos peritos honestos", disse Delazari.
Esquema
De acordo com as investigações feitas pela Promotoria de Investigação Criminal de Cascavel com o apoio da Sesp, o diretor geral do IC do Paraná, Ari Fontana, e o chefe da Divisão do Interior, Geraldo Gonçalves de Oliveira Filho, seriam os coordenadores do esquema que extorquia dinheiro de cidadãos idôneos, indiciados, réus ou qualquer um que precisasse de exame pericial relacionado a crimes, acidentes ou para transferência de propriedade de veículos. Todo o esquema ficava concentrado principalmente em Cascavel e Guarapuava, onde estava a maioria da quadrilha presa.
O ex-chefe da Ciretran de Cascavel, Josmar dos Santos, que está foragido, seria uma das peças-chave do esquema. Ele é apontado como o responsável por escolher as vítimas que seriam extorquidas através de perícias desnecessárias. Segundo as apurações, quando uma vítima procurava a Ciretran para fazer a transferência do veículo, Josmar informava que seria necessária a perícia no carro que ficava detido no pátio do local. De acordo com as investigações, depois das 18 horas geralmente, um dos três peritos do IC de Cascavel (Jayme Cazarote Júnior, Osvaldo Panissa ou Décio Mitmann) ia até o local para fazer a perícia e costumava cobrar 10% do valor de mercado do veículo para emitir o laudo. As denúncias apontam também que a quadrilha cobrava para "esquentar" com os laudos, carros e caminhões com chassis adulterados possivelmente roubados ou furtados.
No Instituto de Criminalística de Guarapuava, Ari Fontana manteria um esquema parecido. De acordo com as apurações, Maria do Rocio Martins Ribeiro trabalha ilegalmente no local como uma espécie de secretária. Mesmo não sendo contratada do Estado, ela é acusada de coordenar e controlar as perícias, além de "cooptar" os clientes para a quadrilha. "Ela escolheria as perícias mais lucrativas, entrava em contato com o diretor geral em Curitiba que designava o perito pessoalmente", explicou o secretário Delazari. Segundo a PIC de Cascavel, Maria do Rocio não é funcionária do estado e não recebe salário, pelo menos de maneira formal.
Fantasma
O médico Edson Mitsuo Inafuko é acusado de ser um perito "fantasma" do Instituto de Criminalística de Cascavel. De acordo com as investigações do Ministério Público, Inafuko é médico concursado da prefeitura de Francisco Beltrão e cumpre expediente diariamente e plantões nos finais de semana. Entretanto, o médico também é contratado do estado e está lotado no Instituto de Criminalística de Cascavel. Segundo o Ministério Público, mesmo sendo contratado com gratificação por tempo integral e dedicação exclusiva, Edson Mitsuo Inafuko não cumpre expediente no IC de Cascavel e denúncias ainda dão conta de que ele repassaria parte do seu salário para os peritos de Cascavel. Ele deve ser interrogado ainda nesta terça-feira (25), em Francisco Beltrão.
Todos os presos devem ser processados pelos crimes de crimes de concussão, corrupção passiva, falsas perícias, peculatos, prevaricações e formação de quadrilha.
Informações da AEN