A polícia do Rio de Janeiro investiga se bandidos egressos de favelas onde foram instaladas Unidades de Polícia Pacificadora cometeram o assalto à casa de veraneio do cineasta Murilo Salles, em Araras, na Região Serrana, na sexta-feira passada. Ele e outras nove pessoas que passavam o feriadão do Dia do Trabalho na casa foram mantidos reféns por sete horas pelo bando.
Os criminosos, armados e encapuzados, chegaram a pé à residência, localizada no Vale das Videiras, por volta das 18h30. Parte do grupo foi trancada no banheiro; outra, mantida num quarto. Entre as pessoas havia uma criança de 10 anos. Elas foram ameaçadas e presas nos cômodos até 1h30.
Durante todo esse tempo, os assaltantes retiraram os eletrodomésticos da casa, incluindo utensílios pesados, como a máquina de lavar e o fogão. Eles fugiram no carro do diretor e de outra pessoa do grupo. Antes, recolheram dinheiro e cartões de banco.
Contatado pelo jornal "O Estado de S. Paulo", o diretor de filmes que tratam justamente da violência urbana preferiu não dar entrevista. Segundo o inspetor da 106ª DP Celso Mayo, que participa das investigações, os bandidos não agrediram as vítimas nem demonstraram nervosismo. "Pelos depoimentos, é um grupo profissional. Não estavam nervosos e ficaram muito tempo na casa."
Ele disse que existem duas favelas em que há tráfico de drogas na região, mas ressaltou que os assaltantes provavelmente não vieram dessas comunidades. Tudo indica que eles saíram de favelas da capital onde a PM sufocou o tráfico.
A área é tranquila e tem casas grandes, de bom padrão, que passam a semana desocupadas - por causa disso, os furtos são mais frequentes do que os roubos. "Ainda assim, são casos raros. Os roubos são mais raros ainda, na média é um a cada quatro meses", afirmou o inspetor.
A casa não possui câmeras de segurança. Na tentativa de identificar o bando, os investigadores procuraram as outras delegacias da Região Serrana para levantar casos parecidos. Localizou ocorrências, ainda que escassas, nas áreas de Miguel Pereira, Vassouras e Paty dos Alferes.
O carioca Murilo Salles tem 63 anos e coleciona prêmios como diretor de fotografia e cineasta. Trabalhou em filmes-chave do cinema brasileiro, como "Dona Flor e seus dois maridos" (1976) e "Eu te amo" (1981).
O interesse pela temática das origens da violência se mostra nos longas "Como nascem os anjos" (1996) e "Seja o que Deus quiser" (2003). Em "Como nascem os anjos", ele trata de uma experiência semelhante à que acabou vivendo: uma família é feita refém durante longas horas dentro de uma mansão.