No que depender da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), o profissional Roberto Fiori, de 43 anos, de Araraquara (SP), poderá continuar atuando por um bom tempo e talvez nem receber punição. Ele é acusado pela polícia de facilitar a entrada de celulares na cadeia e foi flagrado nesta semana quando tentava entregar a um detento ligado a uma facção criminosa uma bengala recheada com seis aparelhos. O preso seria ouvido no Fórum e a descoberta se deu graças a um policial da escolta que desconfiou do peso da bengala.
O advogado se livrou de ir para a cadeia por falta de cela especial na penitenciária local, mas foi encaminhado para prisão domiciliar e não pode sair de casa. O delegado Elton Negrini, da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Araraquara entrou com o pedido de prisão preventiva contra o profissional, sendo que até a tarde desta quarta-feira ele ainda não havia sido analisado pela Justiça.
Já na OAB local, a informação é de que Fiori, independente da gravidade das acusações, deve continuar trabalhando por um bom tempo sem ser incomodado. O vice-presidente da entidade em Araraquara, Jorge Luís Bedram, falou, ao Grupo Estado, que antes de qualquer medida a OAB vai aguardar o desenrolar do processo criminal. E isso inclui todas as etapas, inclusive, a apresentação de defesa por parte do advogado. "Somente depois é que vamos abrir um procedimento e isso não tem um prazo previsto para ocorrer", afirmou Bedram.
Segundo ele, o trâmite é burocrático e deve demorar, pois mesmo se for condenado pela unidade em Araraquara, o acusado pode recorrer à entidade em São Paulo e até Brasília. Se, passadas todas essas etapas, ele não conseguir se livrar das denúncias, a penalidade prevista vai de uma simples advertência até à exclusão da Ordem e a proibição de continuar advogando. Bedram contou que foi uma surpresa a prisão do colega, que por seis anos foi presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB de Araraquara.
Carta
Roberto Fiori está detido em casa, mas já pediu na Justiça o relaxamento da prisão em flagrante. E, como a polícia fez solicitação em sentido contrário, requisitando que vá para a cadeia, a expectativa é de que uma decisão a esse respeito deve sair a qualquer momento. Ele alega ser inocente e que não sabia de nada, pois teria recebido a muleta de um familiar do preso que pediu para que fizesse um favor e entregasse o objeto. Porém, a polícia diz ter uma testemunha que teria visto a muleta no carro do suspeito.
Nesta quarta-feira, a divulgação de uma carta encontrada na penitenciária pode complicar a situação do acusado. Nela detentos detalham um esquema para a entrada de celulares no sistema prisional. Apesar do envolvimento de advogados não ser citado diretamente, policiais dizem que há referências que levam a isso e ao pagamento de R$ 8 mil por cada um dos aparelhos que passar pelo sistema de segurança e chegar ao destino.