Uma audiência convocada na última quarta-feira (8) para ouvir as testemunhas de defesa de dois réus acusados de participarem de uma tentativa de homicídio registrada em abril de 2016 na zona rural de Londrina começou bem tumultuada. Conforme despacho da juíza da 1ª Vara Criminal de Londrina, Elizabeth Kather, responsável por colher os depoimentos, a ré Emília Terumi Fujihara, suspeita de planejar o assassinato de Márcio Henrique da Silva, seu marido na época, teria ameaçado uma pessoa que depôs a favor do réu Samuel Pereira dos Santos, também de 27, acusado de participar do crime.
Apesar da ordem da magistrada em apenas relatar os fatos relacionados ao processo judicial, Emília teria dito por três vezes que era para a testemunha "dizer toda a verdade". Segundo a juíza, ela já tinha sido alertada que não poderia desobedecer a determinação, podendo responder pelo crime de ameaça. A situação fez com que Emília perdesse o benefício de ser monitorada por uma tornozeleira eletrônica e tivesse a prisão preventiva decretada.
Na decisão, a juíza da 1ª Vara Criminal argumentou que "a ré, uma vez em liberdade, poderia continuar ameaçando testemunhas e familiares, assim como empreender fuga". O Código Penal sustenta a decretação de prisão preventiva porque a pena do crime no qual a ré está sendo acusada – homicídio simples em forma tentada – é superior a quatro anos de prisão.
Apesar do incidente, a audiência transcorreu normalmente. A vítima também pôde prestar esclarecimentos sobre o caso, mas o conteúdo não foi revelado e permanece sob domínio da Justiça.
O crime
Além de Emília, a Polícia Civil identificou que o seu suposto amante na ocasião, Valnei Francisco, também planejou o assassinato de Márcio Henrique da Silva. O companheiro amoroso da ré teria contratado Samuel Pereira dos Santos e mais um adolescente de 17 anos para executar Silva. Segundo as investigações, ele foi convencido pela esposa a acompanhá-la em uma visita à de sua mãe, que mora em um sítio próximo à Tamarana (70 km de Londrina).
No meio do caminho, o casal pegou uma estrada secundária entre a meia-noite e 1h de domingo, bem perto do local onde Francisco estava aguardando com os dois comparsas. Os três entraram na frente do veículo e retiraram a vitima à força, levando-a para uma ribanceira. Sem poder reagir, Silva teve que dobrar os joelhos e se posicionou de costas para os assassinos. Eles usaram uma pistola de brinquedo carregada com munições de calibre 22 para efetuar os disparos, mas a arma improvisada falhou.
Incomodado com a situação, um dos integrantes do trio criminoso atirou mais uma vez, e a cápsula acertou a clavícula direita de Silva. Depois do segundo disparo, o quarteto se dividiu: Francisco foi embora com Emília no carro do casal, enquanto Samuel e o adolescente seguiram para o distrito de Lerroville, que fica ao lado da cidade de Tamarana.
Lutando pela vida
De acordo com a Polícia Civil, a vítima, mesmo baleada, rolou pela ribanceira, caiu em um amontoado de terra e ainda conseguiu andar por quatro horas até encontrar um sítio. Os proprietários, assustados com o homem ensanguentado que haviam acabado de "receber" como visita, chamaram a Polícia Militar e os socorristas do Siate.
Graças ao depoimento prestado à PM em meio ao atendimento médico, Emília e Francisco foram presos horas depois e encaminhados ao 4º Distrito Policial. Samuel e o menor foram detidos pelos investigadores do 3º DP em Tamarana. O possível amante de Emília foi ouvido na época e disse que "apenas iria dar um susto em Silva". A versão foi corroborada por Samuel.
Já Emília negou ter convocado Francisco para arquitetar o assassinato do marido. Ela conseguiu um alvará de soltura dias após o crime através de uma audiência de custódia. A juíza Elizabeth Kather aguarda manifestação do Instituto Médico Legal de Londrina para saber se o membro de Silva afetado pelo disparo de arma de fogo permanecerá ou não debilitado. A resposta deve chegar em até o início da semana que vem, até porque a solicitação foi protocolada pela magistrada com "votos de urgência."