Luzes, câmeras, ação. Não, não é o roteiro de cinema. O reforço na iluminação, as câmeras e a presença de seguranças no comércio tornou-se praticamente necessidade para quem precisa manter as portas abertas. Para evitar dores de cabeça com furtos, arrombamentos e até mesmo assaltos em plena luz do dia, supermercados, farmácias, padarias e lojas de conveniência do comércio de Londrina incluem na planilha o gasto com segurança como despesa fixa. Com tantas câmeras espalhadas, o comércio virou um "Big Brother da vida real". A reportagem ouviu comerciantes e suas frustrações diante da insegurança pública.
No pacote básico de segurança do supermercado Folha Verde, localizado na avenida Lúcia Helena Gonçalves Vianna, região norte, estão alarme monitorado, vigilante, câmera com ampla cobertura e cerca elétrica - esta, dentro e fora do estabelecimento. O combo, de acordo com Victor de Almeida, um dos responsáveis pela unidade, é um mal necessário. "Tivemos que aumentar até o muro do vizinho, porque usavam de acesso para entrar na loja e furtar", conta o comerciante. "Se não for assim, o prejuízo pode ser maior", completa. Nesses anos, Almeida e a família perderam a conta de quanto já gastaram para evitar mais prejuízos.
A comerciante Elaine Gandolfo, 63 anos, segue há 23 anos com sua padaria na região Leste. Das 6h às 20h, toda equipe trabalha em alerta. "Antes disso ainda, porque o padeiro tem que vir com um vigia". Um assalto foi determinante para que a rotina da proprietária e funcionários mudasse e, hoje, a hora de encerrar as atividades até parece uma mudança. "Temos que tirar freezer, a máquina de sorvete, a boleira e balcões de perto das janelas porque conseguiam fazer pequenos furtos quebrando as vidraças." Os vidros, antes transparentes, agora são brancos e escondem o que há dentro do comércio, numa tentativa de poupar a todos. "Temos que tirar até as lâmpadas de fora, pois roubam e cada uma custa R$150. Várias vezes roubaram os refletores que tive que colocar para ajudar na iluminação da rua. Como levavam os refletores, precisei colocar cerca elétrica até nessa parte e pagamos uma conta muito alta para ficar de porta aberta", confessa.
Dinheiro que poderia virar investimento
Do ponto de vista dos comerciantes, todo esse montante desviado para a segurança, poderia ter outro fim. "São mais de R$ 6 mil por mês com segurança, fora as surpresas. Quando você calcula por ano, pensa que poderia melhorar outras coisas como repor mercadoria, trocar um piso", expõe Victor de Almeida. "Temos despesas fixas como água, aluguel, alarme monitorado, luz, fornecedores e somando tudo dá um volume grande e não podemos repassar isso para a freguesia, mas o lucro já diminui bastante", completa Elaine Gandolfo.
Acil acredita na união de esforços
Os relatos são de conhecimento do vice-presidente da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina), Fernando Moraes. "Chegou-se ao ponto de ter que colocar segurança armado e todos esses gastos, infelizmente, acabam entrando na formação do preço e isso é muito grave em Londrina". Moraes recorda que são feitas reuniões constantemente com as polícias Civil e Militar, além da Guarda Municipal. "Temos um comitê de segurança e precisamos retomar nossas atividades para que não fique só no ‘cada um por si’". Para ele, um trabalho de inteligência faria diferença. "Isso é grave e essa verba poderia ser investida em outras áreas. Muitas vezes o produto fica mais caro e a venda cai".
RESPOSTA
Em resposta à reportagem, a Sesp (Secretaria de Estado da Segurança Pública) ressaltou investimentos feitos na área em todo o Estado, inclusive Londrina. A nota informa que a região registrou redução de 10,7% no número de furtos a comércio (em 2016 foram 1.903 e em 2017 foram 1.698). O índice de roubos a comércio também registrou uma redução de 34% (em 2016 foram 1.352 e em 2017 foram 889).