Dois crimes envolvendo a disputa pela posse da terra têm julgamento marcado para esta terça-feira (24). No município de Loanda, na região noroeste do Paraná, será julgado o acusado do assassinato do trabalhador sem terra Sebastião Maia, ocorrido em 1999. Em Cuiabá, após 19 anos de espera, três dos seis acusados do assassinato do líder missionário Vicente Cañas, que lutava pela demarcação das terras do povo Enawenê-Nawê, vão a julgamento. As informações são da Agência Brasil.
No caso Cañas, o ex-delegado de polícia de Juína - município de Mato Grosso onde ocorreu o crime - Ronaldo Antônio Osmar, José Vicente da Silva e Martinez Abadio da Silva serão julgados por crime de homicídio duplamente qualificado, mediante pagamento e em situação de emboscada. Em um local onde madeiras e terras eram cobiçadas, Vicente Cañas foi assassinado com perfuração no abdômen, apresentando marcas de espancamento. Seu corpo só foi encontrado 40 dias depois.
"O julgamento significa um avanço contra a impunidade, apesar dos 19 anos de espera", diz o secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Éden Magalhães. Todo ano, tanto o Cimi quanto a Comissão Pastoral da Terra ( CPT) divulgam relatório de violência contra os povos indígenas e contra os povos do campo. "A cada ano, o número tem sido maior, não tem regredido", diz Magalhães.
Os assassinatos do líder Vicente Cañas e do trabalhador rural Sebastião Maia não são casos isolados. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra, de 1985 a 2005 ocorreram no Brasil mais de mil conflitos seguidos de morte pela posse da terra. "O número de denúncias de processos criminais e de condenações é absolutamente inferior à realidade que o quadro desperta", diz Mário Avelar.
Pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, o assessor Ivair Augusto dos Santos acompanhará o julgamento do acusado de assassinar Vicente Cañas.