Polícia

"Chamado de Deus" motivou jovem a matar cartunista

15 mar 2010 às 22:44

O estudante Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, o Cadu, de 24 anos, preso na noite de ontem quando tentava atravessar a fronteira entre o Brasil e o Paraguai, por Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, disse à Polícia Federal que matou o cartunista Glauco Villas Boas, de 53 anos, e seu filho Raoni, de 25 anos, na madrugada de sexta-feira, porque estava cumprindo um "chamado de Deus" e uma "missão".

O próprio estudante teria confessado o crime, antes mesmo de ser perguntado. A PF afirmou não ter entrado em detalhes, em razão de o crime ser investigado pela polícia paulista, mas o delegado José Alberto Iegas admitiu que Cadu tem um discurso místico, em que declara ser Jesus Cristo. Mais tarde, após depoimento, o delegado avaliou que o rapaz também demonstra alguma lucidez. "Parece que ele tem as ideias concatenadas, estava lúcido, fala bem, mas fica difícil fazer uma avaliação da questão psicológica dele. Certamente deve ser submetido a algum exame para verificar."


Aos interrogadores, ele afirmou ter atirado em Glauco e, em seguida, no filho, que teria reagido aos disparos no pai. Ele também afirmou à polícia que estava disposto a matar policiais, caso fosse necessário para a fuga. Ele chegou a atirar contra agentes federais, atingindo um deles no braço. O policial seria submetido a uma cirurgia hoje para a retirada da bala. Ele estava com uma pistola 7.65, que tinha um pente de 25 tiros vazio e outro intacto com a mesma quantidade de tiros. Indiciado em Foz por tentativa de homicídio, porte ilegal de arma, resistência à prisão, uso de entorpecente e roubo de veículo, ele está em uma cela separada à disposição da Justiça Federal, que decidirá sobre transferência a São Paulo.


Cadu afirmou ter planejado a fuga escondido em uma mata em São Paulo. No domingo pela manhã, pegou um Fiesta Sedan preto, em assalto, e iniciou a viagem rumo ao Paraguai. Não contava com informações passadas às polícias rodoviárias sobre o roubo do automóvel. Quando chegou a Santa Terezinha do Itaipu, a cerca de 30 quilômetros da fronteira, policiais rodoviários tentaram pará-lo, mas houve um primeiro confronto. Uma hora depois, houve um segundo, quase no meio da Ponte da Amizade, quando acabou preso. "Os policiais pediram para que ele parasse, mas ele não parou e já começou a atirar", disse o delegado.

Logo depois da prisão, uma equipe da Rede Paranaense de Televisão (RPC), retransmissora da Rede Globo, conseguiu entrevistá-lo. Com as roupas rasgadas e os olhos saltados, ele fez sinal de concordância com a cabeça quando perguntado se tinha matado o cartunista. Como a repórter insistiu na pergunta, respondeu apenas: "Foi, foi". Com ele a polícia encontrou 2,7 gramas de maconha, mas apenas exames toxicológicos apontarão se estava sob efeito de droga.


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