Um mês após a chacina que matou 12 pessoas em Londrina, Arapongas e Ibiporã ainda há muitas perguntas sem respostas. A Secretaria de Estado da Segurança Pública e Administração Penitenciária (Sesp) não fala sobre o andamento das investigações, nem sobre as motivações dos crimes e as relações entre as vítimas. Após 30 dias, ninguém foi preso e o silêncio sobre o caso é motivo de críticas.
A violência que chocou e provocou pânico entre os moradores de Londrina começou na noite de 29 de janeiro, com o assassinato do soldado Cristiano Luiz Bottino, de 33 anos, da 4ª Companhia Independente da Polícia Militar de Londrina, que atende a zona norte.
Bottino foi baleado próximo ao Lago Norte, no Conjunto Milton Gavetti. Ele foi socorrido pelo Siate, mas morreu no Hospital da Zona Norte. Na sequência, ao longo da madrugada do dia 30 de janeiro, mais oito pessoas foram mortas em diferentes regiões da cidade e três em Arapongas e Ibiporã. Quinze ficaram feridas. Um dos feridos morreu dez dias depois depois no Hospital Universitário de Londrina (HU).
A Sesp informou por e-mail que a Polícia Civil está trabalhando em conjunto com a Polícia Militar e o Departamento de Inteligência do Paraná para descobrir a autoria dos crimes, mas que "não pode dar maiores detalhes da investigação para não atrapalhar o trabalho da polícia". Também não informou quantos policiais civis estão trabalhando no caso, mas que "todas as forças de segurança do Estado estão empenhadas em desvendar e prender os autores dos homicídios". A secretaria também descartou o envolvimento de facções nos crimes.
Por causa da falta de informações sobre o andamento das investigações, a Comissão de Diretos Humanos da Câmara de Vereadores de Londrina encaminhou um ofício ao secretário estadual de Segurança Pública, Wagner Mesquita, pedindo um relatório completo dos trabalhos realizados até agora, a lista com os nomes das vítimas e quais delas tinham antecedentes criminais. "Não tem ninguém preso, há um silêncio e não temos respostas sobres as investigações. As famílias das vítimas estão esperando uma resposta e esse silêncio nos assusta e coloca a população em vigilância. A cidade fica vulnerável", comentou Lenir de Assis, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores.
A vereadora enfatizou que, caso não obtenha uma resposta da Sesp, a comissão vai mobilizar a sociedade civil organizada para cobrar uma solução. "Vamos endurecer na cobrança, senão daqui a pouco Londrina vai virar um caos", disse.
A cobrança dos vereadores também é pela contratação de mais agentes penitenciários para que os profissionais tenham mais segurança no trabalho. "Hoje, está insustentável exercer o trabalho na PEL (Penitenciária Estadual de Londrina) 2. O CIT (Centro Integrado de Triagem) está superlotado e manter presos em distritos policiais é um erro em que o Paraná insiste", comentou a presidente da comissão.
Sem agentes penitenciários nos DPs, a guarda dos presos é feita por policiais civis, reduzindo o número de investigadores no trabalho nas ruas. Na sexta-feira, o juiz da 2ª Vara da Fazenda Pública de Londrina, Emil Tomás Gonçalves, acatou a ação civil pública proposta pelo Ministério Público (MP-PR) cobrando reforço no efetivo da Polícia Civil em Londrina. O MP-PR aponta a necessidade de dobrar o número de servidores, que atualmente é de 168. São 125 investigadores.
O coordenador estadual da Comissão Nacional dos Direitos Humanos, Carlos Enrique Santana, afirmou que não acredita em um resultado antes do fim do ano. "Essa investigação vai um pouco mais longe", disse. Ele acrescentou que as autoridades têm obrigação de apresentar informações sobre o caso e fez uma analogia sobre a situação. "Sabe quando uma criança quebra um copo e tenta esconder os cacos debaixo do tapete? Diante deste silêncio sepulcral, como defensor dos Direitos Humanos cabe a mim cobrar respostas das pessoas capacitadas", declarou.
O Conselho Permanente de Diretos Humanos marcou para 21 de março uma reunião em Londrina para debater a situação da violência na cidade. A intenção é, após a reunião, fazer uma audiência pública para discutir o assunto com a comunidade.