Luan Alan Batista, 23 anos, agredido por policiais militares no último dia 1º de novembro, afirma estar com medo de represálias após divulgar um vídeo cujas imagens mostram a abordagem truculenta da Polícia Militar (PM) em um terreno de Joaquim Távora, no Norte do Paraná. A mídia foi postada no Facebook nesta semana e a Polícia Civil já abriu inquérito para apurar abuso de autoridade e crime de tortura por parte de três militares.
"Sinto insegurança. Não sei o que pode me acontecer. Demorei para postar o vídeo nas redes sociais porque a gente fica com um pouco de medo de mexer com a Polícia. Depois de pensar, resolvi expor porque pensei da seguinte forma: e se fosse um aluno meu?", questiona o professor de Educação Física que atualmente trabalha como voluntário em uma escola da rede estadual do município. "Não só eu, mas muita gente foi desrespeitada e agredida naquele dia. Nas imagens pode-se ver que um policial apontou a arma para todo mundo e usou spray de pimenta. Não somos bandidos para sermos tratados dessa forma", completa.
Luan participava de um evento tradicional da cidade, a conhecida Cavalgada, no dia do episódio. Depois da festa, ele e um grupo de colegas se concentraram em frente à casa de uma amiga. Foi quando ocorreu a abordagem de uma equipe da Ronda Tático Motorizada (Rotam). "Até onde fiquei sabendo, não houve reclamação por parte da população. Mesmo assim, mandaram colocar a mão na cabeça, mas estávamos em um terreno de propriedade particular, onde uma casa está sendo construída. Eu argumentei ao policial que aquele era um espaço privado e pedi que ele me mostrasse o mandado. Então, ele me deu um soco no rosto, me imobilizou e colocou a minha cara no chão, me algemando em seguida", detalha.
O professor ainda alega que a agressão se estendeu à delegacia. "Eles me levaram para confeccionar o boletim e me colocaram numa área de serviço, não na área comum para atendimento. Três policiais chegaram e um deles me pegou pela gola da camiseta e falou: 'Tá aqui o seu mandado agora', e começou a me agredir. Eles só pararam de me bater porque um policial civil chegou e disse que eles não podiam fazer aquilo", conta em entrevista à reportagem do Portal Bonde.
Luan Alan Batista foi autuado por desacato e resistência. Ferido, ele realizou o exame de corpo de delito, que já foi anexado ao inquérito policial. "Meu nariz ficou um pouco dolorido, mas o maior prejuízo é o psicológico. Com que tranquilidade eu posso viver a partir de agora? Eu tinha que mostrar isso para todo mundo, pois não fizemos nada de errado", justifica.
Inquérito
Os três policiais militares que aparecem no vídeo foram afastados dos cargos. A PM abriu uma sindicância para apurar a situação, e o trio deve responder a um procedimento administrativo disciplinar. O caso também está sendo investigado pela Polícia Civil. "Foi aberto um inquérito policial para apurar crimes de abuso de autoridades e de tortura", contou o delegado de Joaquim Távora, Rubens José Perez, em entrevista ao Bonde nesta sexta-feira (13).
De acordo com ele, as investigações ganharam corpo só nesta semana, quando o professor agredido procurou a delegacia e entregou o vídeo em que aparece levando um soco no rosto dos policiais. "Vamos coletar mais provas, ouvir todos os envolvidos e apurar a responsabilidade de cada um deles no caso", garantiu.
O delegado confirmou, ainda, que Batista e o colega foram detidos pelos policiais no dia da suposta agressão. "Eles vieram trazidos para cá (delegacia) e foram autuados por desacato e resistência à prisão. Como também alegaram que haviam sido agredidos pela polícia, foram encaminhados para o laudo médico", contou.
Perez revelou, ainda, que um terceiro jovem procurou a delegacia nos últimos dias para denunciar o suposto excesso cometido pelos policiais. "Todos disseram que houve abuso por parte da PM", completou.
O delegado explicou que o fato de os policiais responderem pelos atos deles não impede a Polícia Civil de também investigar os jovens por conta do desacato e da resistência alegados pelos PMs. "As duas situações podem ter sido registradas durante a abordagem", observou.
A Delegacia de Joaquim Távora pretende concluir o inquérito até o final deste mês.