Um homem que defendia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi morto nesta quinta (8) por um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) após uma discussão em Confresa (a 1.160 km de Cuiabá).
Autor do crime, Rafael de Oliveira, 24, passou por audiência de custódia, e a Justiça de Mato Grosso manteve a prisão preventiva. Ele confessou, segundo a polícia, ter matado a facadas o colega de trabalho Benedito Cardoso dos Santos, 44, depois de uma discussão política.
De acordo com a polícia, o autor tentou decapitar a vítima e, após o crime, ainda filmou o corpo.
Nesta sexta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou termos como intolerância, ódio e selvageria ao se referir nesta sexta-feira (9) ao assassinato do apoiador.
O assassinato ocorreu na madrugada em uma fábrica de cerâmica localizada na zona rural do município de 32 mil habitantes. A decisão da prisão preventiva foi assinada pelo juiz Carlos Eduardo Pinho Bezerra de Menezes e divulgada em audiência de custódia na tarde desta quinta-feira.
Na decisão, o magistrado afirma haver, com base nos depoimentos dos policiais que realizaram a prisão e na confissão de Oliveira, "prova da materialidade e indícios suficientes" da autoria do crime.
O juiz ainda classificou o ocorrido de "reprovável" e citou que a intolerância poderá regredir a sociedade aos tempos da barbárie. "Lado outro, verifica-se que a liberdade de manifestação do pensamento, seja ela político-partidária, religiosa, ou outra, é uma garantia fundamental irrenunciável", afirmou.
A deputada federal e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), atribuiu o assassinato a um suposto "comando de violência" dado por Bolsonaro.
"A um dia de completar dois meses do assassinato do Marcelo Arruda, do PT, por um bolsonarista, outro bolsonarista assassinou com facadas um apoiador do Lula, no MT. O comando de violência que dá Bolsonaro para extirpar Lula e os petistas leva a isso. O assassino é você, Bolsonaro", disse.
O crime
Em depoimento, segundo a polícia, o servidor confessou o assassinato alegando que, em dado momento, a discussão ficou acalorada e ambos os envolvidos trocaram socos. Diante das agressões, o rapaz alegou ter "saído de si" e matado o colega de trabalho com golpes de faca no rosto da vítima.
De acordo com o delegado Higo Rafael Ferreira de Oliveira, a polícia foi acionada pela manhã após encontrarem o cadáver. Oliveira tentou fugir, mas foi encontrado e levado à delegacia.
Ainda de acordo com o delegado, após assassinar Santos, Oliveira tentou decapitá-lo com um machado. Efetuou um golpe no pescoço dele, mas não conseguiu concluir o ato.
A Polícia Civil apreendeu o celular de Oliveira e encontrou vídeo e fotos da vítima após assassiná-lo. A Folha de S.Paulo tentou entrar em contato com a defesa do agressor, mas não obteve sucesso.
No feriado de 7 de setembro, em Cuiabá, um jovem de 22 anos foi espancado pelo padrasto por ter postado um meme do presidente Bolsonaro num grupo de aplicativo de mensagens da família.
Segundo a polícia, o homem chegou em casa dando socos e chutes no enteado e fazendo ameaças de morte. A mãe do jovem, ainda de acordo com a polícia, afirmou que o marido estava embriagado.
Episódios ligados a ameaças, ataques e tensão relacionados à disputa eleitoral têm se acumulado no Brasil desde a pré-campanha.
Em julho, um policial penal federal bolsonarista invadiu uma festa de aniversário e matou a tiros o guarda municipal e militante petista Marcelo Aloizio de Arruda, em Foz do Iguaçu (PR).
Depois, o país viu um ataque a um juiz federal e a um ato com o ex-presidente Lula (PT). Dias atrás, militantes de esquerda impediram uma palestra de políticos de direita.
A polarização eleitoral entre Bolsonaro e Lula e a perspectiva de uma disputa acirrada levaram a Polícia Federal a reforçar o esquema de segurança de candidatos à Presidência para este ano.
Até 2018, a PF fazia a proteção dos candidatos com base em lei e portaria sucinta do Ministério da Justiça, que tratava genericamente da necessidade de a corporação proteger aqueles que disputassem o Palácio do Planalto.
Após o pleito, marcado pela facada a Bolsonaro e ameaças à campanha de Fernando Haddad (PT), a polícia editou instrução normativa específica para a segurança dos candidatos à Presidência com diretrizes que devem ser seguidas pelos agentes e com recomendações claras aos políticos que vão concorrer.