Eles falam línguas diferentes, são de classes e culturas distintas, mas são unidos pelo mesmo sentimento: solidariedade. É isso que caracteriza o trabalho dos milhares de voluntários espalhados pelo mundo. Sejam ricos, pobres, famosos ou anônimos, os voluntários têm o objetivo único de ajudar ao próximo, sem exigir recompensa. E quem realiza a ação voluntária garante que a experiência não tem preço. "Passamos a valorizar mais as coisas e a ver a vida sob outra perspectiva", comenta a socióloga Sandra Vischer.
Sandra trabalha como voluntária na Chácara Quatro Pinheiros, em Mandirituba, a 60 quilômetros de Curitiba. O local abriga atualmente 40 meninos ex-moradores de rua. Na chácara, garotos com idade entre 8 e 12 anos realizam tarefas para garantir a subsistência do local, recebem assistência médica, odontológica, psicológica a ainda aulas de inglês, computação e outras atividades lúdicas ou de âmbito profissional. O trabalho realizado na chácara só é possível através da ação voluntária.
Atualmente, seis voluntários estrangeiros prestam serviços no local, além dos estudantes e profissionais brasileiros que contribuem. Alguns dos estrangeiros vieram para o Brasil exclusivamente para conhecer o trabalho de resgate social realizado. É o caso de Sandra. Natural de Luxemburgo, ela já tem experiência em trabalho voluntário em outros países, mas conta que na chácara está aprendendo com a realidade das crianças a valorizar a própria vida e as oportunidades que teve. "Posso ensinar um pouco do que aprendi para eles", comenta.
Antes de morarem na chácara, que existe desde 1993, os meninos viviam em situação de risco. Quem coordena o local é o ex-frade carmelita Fernando de Gois, que deixou a congregação apenas para se dedicar ao trabalho voluntário e criou a Fundação Profeta Elias, responsável pela chácara. Em 1988, ele conta, deixou a igreja para ir viver na Vila Lindóia, bairro de Curitiba, e observar os menores em situação de risco. Cita o pedagogo Paulo Freire (1921 - 1997), que recomendava a observação das comunidades, antes de realizar um trabalho de educação ou resgaste social. "Paulo Freire realizava um trabalho calcado no princípio do diálogo, comenta Fernando, salientando que esse princípio é extremamente valorizado no trabalho que procura fazer na Fundação.
Na chácara, os meninos opinam sobre tudo e, juntos, aprendem a resolver desde os problemas práticos, como construir uma casa ou concertar a caixa d"água, até os de relacionamentos. Fernando opina que este último acaba sendo mais difícil de resolver, já que são crianças que não tiveram uma educação calcada no amor e princípios familiares.
Para resolver esse tipo de problema, um convênio com a Universidade Federal do Paraná (UFPR) garante asssistência psicológica aos meninos. Em grupo ou individualmente, eles escolhem os temas que querem discutir. Voluntários estudantes do curso de Psicologia da UFPR coordenam o trabalho. "Com a experiência, crescemos em todos os âmbitos, pessoal e profissionalmente", diz Ediléia da Silva Santos, que há 11 meses coordena um grupo de discussão na chácara.