O estilista Ney Alves não aposentou as vestimentas de reis e mandarins nem as botas de corsários, cravejadas de pedras vistosas. Carnavalesco ativo nos últimos 36 anos, premiado nos finos salões do Rio e São Paulo e pelo resto do Brasil, com suas fantasias de luxo, ele agora desfila nas escolas de samba cariocas. A cada carnaval sai numa única noite. "Agora sou Imperatriz Leopoldinense, e se os santos nos ajudarem, seremos tri-campeã", torce o carnavalesco.
Depois de passar pela Império, União da Ilha, Salgueiro e Beija-Flor o paranaense que levantou tantos prêmios lá fora verga as cores da nova agremiação por uma razão muito simples, mas de uma afetividade a toda prova: ele só participa da escola que for comandada por Rosa Magalhães. "Onde ela vai, eu vou junto; somos amigos há mais de dez anos", revela.
Os dois costumam trabalhar juntos ao longo do ano, como nas festividades dos 500 anos na Bahia. Em nome da amizade o estilista será destaque num dos carros alegóricos.
Quase 40 anos depois de sua estréia na passarela, Ney suspira por um passado onde as folias de Momo eram espontâneas nas ruas, a alegria varria os bailes nos clubes. Nem mesmo as fantasias resistiram à modernidade: "Elas se tornaram shortinho, camisetinha. Tudo se tornou mais prático, mas perdeu o glamour", considera.
No atelier que mantém no centro da cidade, o carnavalesco conserva algumas das ricas fantasias. Ele foi convidado a doar o material para o Museu de Carnaval e da Máscara, em Binche, na Bélgica, mas falta patrocínio para o envio das roupas. "Quantas eu puder mandar, mandarei, porque vender não vendo a ninguém. Acho ótimo as roupas irem a um museu porque assim a gente perpetua um momento que foi muito bonito".
O entrave nessa história é a taxa de transporte. O estilista está procurando empresas que viabilizem o envio de cerca de 100 quilos de roupas. Se conseguir, é provável que embarque para lá às suas custas. "Eu iria para fazer a montagem das fantasias", planeja.