Duas testemunhas de acusação foram ouvidas ontem à tarde no Fórum de São José dos Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba, no inquérito que investiga a tortura praticada pelo assaltante Marcelo Borelli contra uma menina de 3 anos. Um médico analisou os métodos usados por Borelli para espancar e eletrocutar a criança. As sessões de tortura foram gravadas numa fita de vídeo apreendida pela Polícia Federal na prisão de Borelli em setembro do ano passado.
A juiza Marcelise Weber pretendia ouvir outras duas testemunhas de acusação que não foram localizadas. A juíza enviou um ofício o Tribunal de Justiça do Estado para obrigar a Polícia Federal a trazer Borelli de Brasília, onde ele está preso, para depor sobre o caso de tortura em São José dos Pinhais. A informação na PF em Brasília é de que o assaltante não foi transferido porque ele está respondendo a outros processos considerados graves como homicídios e assaltos a carros-forte.
O advogado de Borelli, Júlio Militão, diz que a presença do seu cliente no fórum é essencial para a tramitação normal do processo. Ele disse que até agora Borelli não teve chance de defesa, o que é garantido a qualquer réu. "Ele está isolado e incomunicável em Brasília e não sabemos o porquê", declarou Militão. Sobre a fita que mostra o assaltante torturando a menina de três anos, o advogado disse que "a defesa tem uma outra tese e vai apresentar no momento oportuno". "O que estamos analisando agora não é o mérito da questão, mas as irregularidades encontradas no processo, já que meu cliente não está podendo se defender e a presença do réu significa muito numa audiência."
O médico e a assistente social que prestaram depoimento ontem desempenharam papéis diferentes no caso. A assistente social foi quem ajudou a cuidar da menina de 3 anos no dia 15 de outubro do ano passado. Ela relatou que a menina aparentava traumas psicológicos. Já o médico analisou as sessões de tortura mostradas na fita. Os nomes das testemunhas não foram divulgados pois o processo corre em segredo de Justiça.
Chuva
O Fórum de São José dos Pinhais foi alagado pela chuva que caiu ontem à tarde. As calhas instaladas no teto para servir de escoamento estavam entupidas pela sujeira e as águas invadiram o hall de entrada do prédio e parte dos corredores do segundo pavimento.
Apesar do problema, o expediente não foi interrompido. Funcionários e pessoas que aguardavam a audiência circulavam no interior do prédio tentando escapar das goteiras. A escada que dá acesso às salas de audiência foi tomada pela água que caía do teto, tornando o banho inevitável. Chouveu durante 25 minutos, o suficiente para formar poças dágua pelos corredores.
O prédio de dois pavimentos que abriga o Fórum de Justiça do município foi inaugurado em dezembro de 1980. A estrutura só recebeu uma reforma quando o edifício foi ampliado em 1987. Mesmo assim, as infiltrações e os alagamentos nunca foram eliminados. Em 20 anos de história, o Fórum sofre com este problema há 16 anos seguidos, segundo os funcionários. A manutenção do município é de responsabilidade da Prefeitura. A reportagem tentou contato por telefone com a assessoria, mas as linhas telefônicas estavam com problemas.