O Hospital de Clínicas (HC) de Curitiba, que é o maior do Estado, fecha as portas oficialmente a partir desta quarta-feira. A medida é consequência da greve geral deflagrada pelos funcionários técnico-administrativos do hospital, que se revoltaram contra a suspensão do pagamento dos salários de setembro pelo ministro da Educação, Paulo Renato de Souza. Serão mantidos apenas os atendimentos aos 340 pacientes internados no hospital. O atendimento só deve se normalizar quando os salários forem pagos.
Desde o início da tarde, quando a categoria decidiu pela greve em assembléia, foram suspensos os atendimentos de urgência, emergência, consultas, exames laboratorias e até os serviços de limpeza e lavanderia.
"Ninguém mais entra no hospital. Nem mesmo as vagas que forem abertas para internamento com a saída dos pacientes que receberem alta a partir de agora poderão ser ocupadas", afirmou o presidente do Sinditest (sindicato que representa a categoria) Antonio Neris.
Apesar da paralisação, 700 servidores - inclusive médicos e enfermeiras - dos 2050 lotados no HC continuam trabalhando.
"O Sinditest está entranto com uma ação civil contra o ministro por perdas e danos à categoria. Também solicitamos ao Ministério Público Federal (MPF) que mova ação criminal contra Paulo Renato por omissão de socorro aos pacientes. Além disso, pediremos ao MPF que o Estado se responsabilize pelos doentes do Paraná", contou Neris.
O diretor-geral do HC Luiz Carlos Sobânia comunicou a decisão ao juiz Guy Marcuzzo da 2ª Vara Civil de Curitiba. O jui havia dado uma decisão em liminar, proibindo a greve de servidores no HC, mas esta não será respeitada. "Vou avisar também ao gestor e secretário municipal de Saúde, Luciano Ducci, e Ministérios Públicos Estadual e Federal que fecharemos as portas", explicou. No final de julho, quando a categoria iníciou greve por reajuste salarial de 70,48%, a direção entrou na Justiça, que entendeu que "o direito a vida prevalecia sobre o direito à greve".
Conforme Sobânia, o ministro Paulo Renato afirmou pela manhã, por intermédio de sua assessoria, que iria depositar os salários dos servidores lotados em hospitais universitários, mas não informou a data . "Na verdade, o salário pode ser pago até o quinto dia útil do mês que será na sexta-feira e não no segundo dia útil como afirma o sindicato", disse.
"Da primeira vez que fizeram greve, achamos a causa injusta e por isso entramos na Justiça. Mas agora estamos com vocês, pois não é justo que quem trabalhou o mês todo seja sacrificado por conta de 100 funcionários do HC que continuaram em greve", disse o diretor-clínico do HC, Giovanni Loddo.
Conforme Loddo, com a greve, o problema da falta de vagas para internamento pelo Sistema Único de Saúde (S.U.S) em hospitais da capital deve se acirrar. "Na última quinta-feira ordenei a redução no número de internamentos, mas na madrugada de sexta-feira fui obrigado a desobedecer a minha própria ordem porque não conseguimos transferir pacientes, inclusive com Aids, para outros hopitais. Tive que deixar pessoas com sete tipos diferentes de doenças na mesma enfermaria. Temos que oferecer segurança aos pacientes", disse aos grevistas.