A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) informou que, numa sessão de reconhecimento realizada nesta segunda-feira pela manhã em Cascavel, trabalhadores sem-terra reconheceram três dos sete seguranças presos suspeitos de ter participado de um suposto confronto na fazenda da Syngenta em Santa Tereza do Oeste (24 km ao sul de Cascavel) no último dia 21, no qual morreram duas pessoas (um segurança e um sem-terra).
De acordo com a Sesp, uma testemunha reconheceu o segurança Rodrigo de Oliveira Ambrósio como a pessoa que matou o sem-terra Valmir Mota de Oliveira. A sem-terra Izabel Nascimento de Souza, baleada no olho, reconheceu no hospital, através de fotos, o segurança Alexandre de Jesus como seu agressor. Ela alega que foi confundida com a líder sem-terra Célia Aparecida Lourenço, que estaria ameaçada de morte.
A Via Campesina argumenta que não houve conflito e que os sem-terra na verdade foram atacados por uma milícia armada a serviço da Syngenta e de produtores rurais. A NF Segurança, empresa responsável pelo monitoramento da área, sustenta que no dia 21 seguranças retornaram à fazenda horas após a ocupação realizada pelos sem-terra. Na versão da empresa, os vigilantes teriam voltado apenas para buscar objetos pessoais e negociar a liberação de supostos reféns e teriam sido recebidos a tiros. A Syngenta e a Sociedade Rural do Oeste (SRO) negam responsabilidades no episódio.
A Via Campesina diz que os manifestantes não fizeram reféns. De acordo com a Sesp, a esposa do segurança Fábio Ferreira, morto no suposto confronto, disse em depoimento que o marido não foi feito refém, ao contrário do que teriam dito outros vigilantes.
A Sesp relatou que no fim de semana foram cumpridos mandados de busca e apreensão nas casas dos seguranças, na fazenda e na sede da NF. Em uma das residências, foi encontrada uma pequena quantia de maconha. Na NF Segurança, de acordo com a Sesp, foram localizados três revólveres calibre 38. A secretaria divulgou que uma testemunha teria visto os seguranças armados num barracão abandonado perto da fazenda, pouco antes do suposto ataque. Um vídeo entregue pelos sem-terra mostraria um vigilante armado.
O Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), que assumiu o inquérito, negou que tenha coagido os seguranças para obter informações. A Folha tentou contato com o advogado da NF Segurança, mas ele não atendeu as ligações.
Em nota, a Via Campesina criticou a Justiça de Cascavel. ''No mesmo dia em que o segurança que atirou em Valmir Mota de Oliveira foi reconhecido pelos trabalhadores rurais, o Poder Judiciário de Cascavel tomou a decisão de soltar os sete pistoleiros presos em flagrante, após o assassinato'', diz a nota.
Folha de Londrina