Os bichos-barbeiros encontrados nos municípios de Cambira, Jandaia do Sul e Arapongas são do tipo Panstrongylus megistus, uma espécie que vive no mato (silvestre), raramente chega à área urbana e, quando alcança propriedades rurais não instala-se nas residências, mas em locais afastados, especialmente os galinheiros. Por esse motivo, a Secretaria Estadual de Saúde não acredita na possibilidade de que os insetos encontrados na região do Vale do Ivaí signifiquem riscos de transmissão da doença de Chagas à população.
Segundo Alceu Bisetto Junior, médico do setor de Endemias da Secretaria, o bicho-barbeiro mais comum que transmite a doença às pessoas é do tipo Triatoma infectans, espécie inexistente no Paraná há pelo menos oito anos. Já o inseto silvestre não pode ser erradicado uma vez que ele vive na mata, sendo infectado pelo Mal de Chagas pelos animais. "O problema é que, por mudanças ecológicas, às vezes esse inseto se desloca para perto da habitação dos seres humanos", diz, ressaltando que dificilmente esse tipo de barbeiro irá entrar nas residências. A tendência é que eles se refugiem em galinheiros.
Ainda assim, a 16ª Regional de Saúde e Fundação Nacional de Saúde (Funasa) está fazendo uma campanha de esclarecimento junto à população da região. O principal objetivo é pedir que as pessoas coletem o inseto, quando há suspeita de que seja barbeiro, entregando-o em qualquer posto de saúde para que seja feita análise da espécie e se há contaminação. Também foi feita borrifação de veneno nas áreas afetadas.
No Brasil, a doença de Chagas existe em alguns focos centrados no interior da Bahia e Minas Gerais. No Paraná, a doença teve grande incidência nas décadas de 1940 e 50, trazidas por colonizadores que chegaram para trabalhar na região norte do Estado. Um grande trabalho das autoridades sanitárias conseguiu acabar com a doença. Desde então, a Secretaria realiza periodicamente o que chama de Inquéritos Sorológicos. Ou seja, são feitas coletas de sangue em crianças até 14 anos nos municípios afetados pela doença anteriormente para verificar se há ou não aparecimento de novos casos. "Graças a Deus não encontramos mais nenhum caso nas últimas amostras, feitas em 1993, 1997 e em outubro do ano passado", diz recentemente Até agora não foi "Há anos não econtramos mais novos casos", diz Besetto.
No Paraná, os últimos registros do inseto da espécie Triatoma infectans - tipo que transmite a doença ao homem - aconteceram em 1992, nas cidades de Ortigueira e São Jerônimo da Serra. O que existem, hoje, são pessoas que foram picadas pelo inseto há mais de 30 anos e que são portadoras do Mal de Chagas.
Em todo Brasil calcula-se que existam entre 5 a 6 milhões de pessoas infectadas pelo Trypanossoma cruzi, protozoário causador da doença. Muitas só acabam sabendo que têm Mal de Chagas ao fazer doação de sangue ou quando apresentam alguma complicação cardíaca causada pela doença. O Mal de Chagas é transmitido pelo barbeiro, inseto portador do Trypanossoma.