O governador Roberto Requião (PMDB) abriu uma crise política com o PT. Requião deixou transparecer nesta quarta-feira pela manhã, durante o lançamento do Programa Fome Zero no Estado, seu descontentamento com o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
As críticas de Requião tiveram dois alvos: o presidente do diretório do PT no Paraná, deputado estadual, André Vargas; e o líder do governo Lula no Congresso, senador Aloizio Mercadante (PT). Requião atacou Vargas e Mercadante em seu discurso. O ministro extraordiário de Segurança Alimentar e Combate à Fome, José Francisco Graziano da Silva, estava na solenidade, no Palácio Iguaçu, em Curitiba.
''Enquanto a chamada esquerda do PT critica o fim do pedágio, empresários que eram de direita me concedem um título de honra. Estamos vivendo num paradoxo no Paraná'', esbravejou o governador, que teve o apoio do PT no segundo turno das eleições para o governo, no ano passado.
As primeiras divergências com a direção estadual petista iniciaram há pelo menos três meses, quando Vargas declarou publicamente que não concordava com a encampação do pedágio, proposta defendida por Requião como uma alternativa ao alto preço das tarifas cobradas pelas concessionárias que exploram o Anel de Integração.
Vargas foi presidente da CPI do Pedágio, instalada pela Assembléia Legislativa, e a comissão concluiu que todos os contratos com as seis concessionárias são regulares. Vargas chegou a sugerir que o governo do Paraná optasse pelo entendimento com as concessionárias para a redução das tarifas.
Na semana passada, a assessoria do presidente do PT, com base numa reunião realizada no final de semana, emitiu nota dizendo que o partido deveria manter uma ''relação institucional'' com o Palácio Iguaçu, ou seja, sem emprestar apoio incondicional, ainda mais que ano que vem é ano de eleição e o partido não pode ficar a reboque do PMDB de Requião.
A briga de Requião com Aloizio Mercadante teve origem em uma entrevista concedida pelo líder do governo Lula no Congresso ao jornal ''O Estado de São Paulo''. O senador criticou o governo Requião por conta do cancelamento de contratos para a geração de energia termelétrica no Paraná mesmo diante de uma crise energética nacional que, segundo o senador petista, poderá se agravar a partir de 2006.
''O PT criticou o governo do Paraná por causa de acordos com multinacionais. A Copel (Companhia Paranaense de Energia) tinha que romper o contrato com a UEG Araucária, da norte-americana El Paso. O governo do Paraná tem preferência pelos pobres. Não vou fazer acordos com multinacionais. Essa crítica (de Mercadante) é de direita e feita por pessoas que achávamos que eram de esquerda'', declarou Requião.
O governador disse ainda que ''temos que saber se o atual PT deixou de lado o posicionamento que tinha no passado''. Requião pediu ao ministro José Francisco Graziano que participava do lançamento do Fome Zero que levasse seu questionamento a Brasília. Graziano não se manifestou. Durante entrevista coletiva, disse que se restringiria a falar sobre o Fome Zero.