Paraná

Prostituição no porto: não há programa para a Aids

20 mai 2001 às 18:11

Os órgãos oficiais de saúde não realizam um trabalho específico de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis junto aos profissionais do sexo que trabalham na região de Paranaguá e na beira das estradas do estado. De acordo com a presidente da organização não-governamental Grupo Pela Vidda, Clarisse Calo, ninguém instrui as prostitutas e os travestis sobre os perigos de relações sem proteção ou tira as dúvidas desses profissionais. O Pela Vidda, com sede em Curitiba, apóia portadores de aids.

No entanto, o secretário de Saúde de Paranaguá, Volney Bonotto, diz que os profissionais do sexo podem obter apoio e informações nos postos de saúde da região. "Os travestis e prostitutas sabem como se prevenir", justifica Bonotto. Já o técnico responsável da Coordenação Estadual de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids (DST/Aids), Francisco Carlos dos Santos, afirma que o governo do Estado apóia duas Ongs que atuam na prevenção e orientação de doenças para os profissionais do sexo - Grupo Reviver, de Ponta Grossa, e o Nasa, de Foz do Iguaçu. "Em Paranaguá, não temos um grupo de trabalho para esses profissionais", admite Santos.


A presença do Estado em Ponta Grossa e Foz do Iguaçu não justifica a ausência em Paranaguá -cidade com o maior índice proporcional de casos de aids do Paraná. Apesar disso, o grupo Reviver vem realizando um bom trabalho. A ong ajuda 12 travestis de beira de estrada. Apesar dos esforços, a atuação do grupo é limitada ao município.


Há distribuição de preservativos, além de avaliação sócio-econômica e repasse de informações. Mesmo trabalho é desempenhado pelo Nasa, de Foz do Iguaçu, mas o público-alvo são as prostitutas daquela cidade. As duas ongs recebem do governo estadual preservativos e panfletos. Nas demais cidades, as ações são pontuais, custeadas por outras ongs.


A reportagem da Folha constatou, em conversa com alguns profissionais do sexo em Paranaguá, que as informações sobre prevenção de aids são desencontradas. "Falta conhecimento para algumas delas", admite José Renato Buzzoni, coordenador da Reviver, de Ponta Grossa.


Um dos erros mais comuns é quanto ao sexo oral. "Se o cliente pedir, faço sexo oral sem camisinha", admite o travesti Laís, que normalmente trabalha na beira da estrada, em Ponta Grossa. Ele diz não ter medo de contrair alguma doença ao manter esse tipo de relação. Resposta parecida foi dada pela garota de programa Patrícia.


No entanto, Patrícia garante que se cuida e até realiza exames trimestrais para ver se tem a doença. Em Paranaguá, existe o Centro Municipal de Testagem Anônima, onde as pessoas podem fazer exames gratuitos para detecção de aids. "Muitas delas fantasiam e dizem que se previnem", afirma Francisco dos Santos, da Coordenação Estadual de DST/Aids.


Santos diz que o governo estadual planeja ainda para este ano um programa voltada aos profissionais do sexo. Mas, por enquanto, não há nada definido. Por isso, é provável que a ação junto a esse público só comece na próxima safra. "Por enquanto, não dá para adiantar nada sobre o assunto."


Para Bonotto, é mais fácil as prostitutas e travestis irem aos postos de saúde. "Existe uma estrutura preparada para atendê-los."

Mas para Clarisse Calo, do Grupo Pela Vidda, a responsabilidade não é só do setor público. Ela não perdoa a falta de iniciativa do setor privado. Segundo a militante, as empresas do setor de transporte preferem dar um caminhão pela melhor frase sobre aids. Um caminhão custa em torno de R$ 200 mil. "Com este dinheiro, dá para distribuir muitas camisinhas e material de orientação".


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