A Serra do Mar, no trecho da Estrada da Graciosa, está sofrendo um processo de ‘contaminação biológica’. Técnicos da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) estão preocupados com a possível proliferação de pinus e outras espécies exóticas na região, o que causaria perda da diversidade do ecossistema e descaracterização da paisagem.
As árvores de pinus, que não são nativas do Brasil, são consideradas invasoras pela rapidez com que se espalham. Elas estão no início e término da estrada, próximas dos postos da Polícia Florestal. Para os leigos, as árvores que estão no local há cerca de 30 anos são inofensivas e até dão um certo charme àquele trecho da rodovia. Mas a engenheira florestal Sílvia Ziller, da SPVS, alerta: elas são extremamente prejudiciais às plantas nativas. ‘A invasão de espécies exóticas é a segunda maior causa no mundo de perda de biodiversidade’, ressalta. A primeira é o desmatamento para cultivo agrícola.
Sílvia explicou que as sementes liberadas pelas árvores se espalham normalmente em áreas abertas (já desmatadas pelo homem) e em áreas de várzea, próximas de cursos d’água. Nesses locais, normalmente, a vegetação nativa é rasteira. Como o pinus é uma espécie de crescimento rápido, à medida que vão crescendo vão fazendo sombra, prejudicando as plantas nativas.
‘Essa espécie invasora cresce em progressão geométrica’, afirmou Sílvia. Segundo ela, a cada cinco ou seis anos aparece uma nova geração. Por isso, num curto espaço de tempo, elas acabam dominando a paisagem e ocupando o espaço das espécies nativas.
Outro problema provocado pela dispersão de árvores de pinus, observou Sílvia, é um processo lento de acidez no solo, prejudicando o crescimento de espécies nativas. Como consequência, a falta de vegetação pode desencadear processos de erosão nas margens de rios e causar a perda de água de córregos, a longo prazo.
Para Sílvia, a paisagem da Serra do Mar, na Estrada da Graciosa, já está comprometida. Não só pela proliferação de pinus, mas também de outras espécies exóticas invasoras como a braquiária (tipo de capim para pastagem), a açucena (espécie lírio branco) e o beijo (flor). De um modo geral, explicou a engenheira florestal, essas plantas interferem nos processos ecológicos de fauna, flora e microflora.
‘No Brasil, o problema das invasões não é levado a sério’, criticou Sílvia. Segundo ela, governos da África do Sul, Nova Zelândia e Austrália adotam planos anuais de controle de dispersão e remoção de plantas exóticas.
A diretora de Biodiversidade e Áreas Protegidas do Instituto Ambiental do Paraná, Mariese Cargnin Muchailh, informou que o órgão já está trabalhando em um plano de ação para a Área Especial de Interesse Turístico (AEIT) do Marumbi, onde se insere a Estrada da Graciosa. ‘Estamos numa fase de diagnóstico e a questão das espécies exóticas já está elencada entre os problemas.’
Mariese afirmou ainda que o planejamento deverá estar concluído até novembro. As ações apontadas pelo estudo deverão ser implementadas a partir de 2002. ‘Com o mapeamento da vegetação teremos condições de normatizar as atividades que poderão ser desenvolvidas na área, inclusive definindo que espécies poderão ser usadas para reflorestamento.’